Trinómio pobreza-desemprego-fome pode condicionar governo de Chapo

A combinação de pobreza, desemprego, fome e os elevados índices de analfabetismo juvenil em Moçambique poderá comprometer a actuação do governo de Daniel Chapo. O alerta foi lançado pelo economista sénior Constantino Marrengula, do Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), que aponta a má governação da última década como um dos principais factores para o agravamento da crise social e económica no país.

Março 10, 2025 - 15:32
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Trinómio pobreza-desemprego-fome pode condicionar governo de Chapo

Nos últimos dez anos, a economia moçambicana registou um desempenho fraco, com um crescimento do PIB inferior a 4%, longe dos mais de 9% alcançados em governos anteriores. A situação fiscal do país deteriorou-se, e o actual executivo terá de operar com um défice orçamental que dependerá fortemente do endividamento interno e da assistência internacional, aumentando a pressão sobre as contas públicas e sobre a taxa de câmbio. 

Diante deste cenário, o economista antevê um ano de 2025 desafiante para a governação de Chapo, com riscos elevados para a estabilidade do país. “A actuação do governo continuará limitada pela enorme dívida pública e pela necessidade de responder às ameaças, reais ou percebidas, à segurança nacional”, alertou Marrengula. 

O especialista defende que, para evitar um colapso social e económico, o governo deve encontrar rapidamente formas inovadoras de lidar com a interligação entre pobreza, desemprego e analfabetismo juvenil, especialmente na zona norte do país. As províncias de Nampula, Zambézia, Niassa e Cabo Delgado apresentam uma taxa de pobreza acima de 60%, apesar da abundância de recursos naturais na região. 

Segundo Marrengula, cerca de 18 milhões de moçambicanos vivem abaixo da linha da pobreza, sendo que o analfabetismo juvenil atinge quase 50%, o que compromete a sua integração no mercado de trabalho. “Trata-se de uma geração de jovens não empregáveis nos sectores mais produtivos da economia”, explicou. A falta de oportunidades tem levado muitos jovens ao desespero, tornando-os protagonistas das recentes manifestações de contestação ao governo. 

“Os jovens do passado tinham mais oportunidades de participar na economia do que os jovens de hoje. Actualmente, muitos não têm perspectivas de emprego ou de integração produtiva, e quando não há oportunidades, a frustração leva à revolta contra o Estado”, afirmou o economista. 

Um estudo recente do Observatório do Meio Rural, intitulado As Armadilhas da Pobreza em Contexto Rural em Moçambique, revela que a pobreza tem-se mantido praticamente inalterada desde 2002. A pesquisa aponta que o ciclo da pobreza pode ser quebrado com políticas públicas eficazes e estáveis, cuja implementação seja coordenada e sustentável a longo prazo. 

Enquanto a crise social se aprofunda, o governo de Chapo enfrenta o desafio de reverter o quadro sem margem para erros. O insucesso em lidar com os problemas estruturais pode resultar num agravamento da instabilidade política e num aumento da pressão popular sobre o Estado.