Moçambique sob espionagem digital: Especialistas confirmam presença do Spyware Predator no país

Moçambique foi oficialmente identificado como um dos alvos da mais recente vaga de ciberespionagem digital, com a confirmação da presença activa do Predator, um spyware de vigilância sofisticado concebido para infiltrar-se silenciosamente em telemóveis e monitorizar em tempo real as comunicações e actividades dos utilizadores, sem o seu consentimento ou conhecimento. A denúncia, avançada pelo Insikt Group da empresa norte-americana Recorded Future e publicada pelo portal Security Affairs, coloca o país no centro de uma rede global de vigilância digital altamente intrusiva.

Agosto 12, 2025 - 15:10
Agosto 30, 2025 - 00:25
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Moçambique sob espionagem digital: Especialistas confirmam presença do Spyware Predator no país

O Predator é um software malicioso desenvolvido pela empresa macedónia Cytrox e comercializado pelo consórcio Intellexa, uma aliança de empresas de espionagem digital baseada na Europa, com raízes operacionais em Israel, Chipre e Grécia. Este spyware é capaz de aceder ao microfone, câmara, mensagens, localização, contactos e dados pessoais dos dispositivos móveis, sem qualquer acção do utilizador explorando falhas de segurança conhecidas como zero-click.

De acordo com a Recorded Future, Moçambique passou a figurar numa lista de 13 países com actividade confirmada do Predator, entre os quais se encontram também Angola, Egipto, Cazaquistão, Indonésia, Arábia Saudita, Filipinas, Arménia, Omã, Mongólia e Trinidad e Tobago. O continente africano, com especial incidência em regimes pouco transparentes, é o epicentro desta expansão digital clandestina.

No caso moçambicano, foram detectados domínios maliciosos como noticiafresca[.]net, flickerxxx[.]com e mundoautopro[.]com, criados para enganar utilizadores e instalar silenciosamente o Predator nos seus dispositivos. As operações envolvem uma infraestrutura técnica complexa de cinco camadas (ou tiers), que mascaram a origem e dificultam a detecção do tráfego malicioso. O nível mais avançado desta cadeia técnica foi atribuído à empresa checa FoxITech s.r.o., ligada anteriormente ao consórcio Intellexa.

Nos Estados Unidos, o Departamento do Tesouro, através do Office of Foreign Assets Control (OFAC), aplicou sanções económicas severas contra o fundador do Intellexa, Tal Dilian, e cinco entidades associadas, proibindo qualquer transacção com cidadãos ou empresas norte-americanas. O objectivo foi travar a expansão da indústria privada de vigilância e impedir o uso do Predator contra diplomatas, activistas e jornalistas.

Apesar dessas medidas, a nova investigação do Insikt Group revela que a infraestrutura do Predator não só sobreviveu, como evoluiu. Os operadores continuam a recorrer a sites simulados, domínios camuflados e técnicas de disfarce digital sofisticadas para manter as operações activas. Moçambique surge neste contexto como o mais recente terreno de expansão silenciosa da ciberespionagem.

Face a esta revelação, os especialistas em cibersegurança recomendam medidas de protecção imediatas, tanto a nível individual como institucional: manter os sistemas operativos actualizados, separar os dispositivos pessoais dos profissionais, reiniciar regularmente os telemóveis (para interromper processos activos de espionagem), activar o modo lockdown nos iPhones, usar ferramentas de gestão de dispositivos móveis e promover programas de literacia digital.