Daniel Chapo: Continuidade ou Mudança?

Na noite transacta, após intensas deliberações envoltas em um manto de secretismo e conjecturas, o conclave do partido Frelimo elegeu Daniel Chapo como seu candidato para as iminentes eleições presidenciais, que terão lugar daqui a cinco meses.

Maio 6, 2024 - 21:15
Junho 4, 2024 - 12:16
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Daniel Chapo: Continuidade ou Mudança?
Faustino Muianga

Ao longo deste período, o país manteve-se em expectativa, consciente de que o verdadeiro pleito eleitoral desenrolava-se nos bastidores da Escola Central do Partido Frelimo. Um grupo restrito decidia o destino da nação para a próxima década. As eleições de Outubro, descritas pelo Presidente Nyusi como um mero "gasto de dinheiro", parecem não ser mais do que uma encenação concebida para aplacar as demandas da comunidade internacional e esquivar-se a eventuais represálias por parte do "Mr. SAM".

 

A nomeação de Daniel Chapo gerou uma euforia quase nacional, uma onda que rapidamente se espalhou pelas ruas e redes sociais. Contudo, é imperioso questionar: está Daniel Chapo verdadeiramente à altura do desafio de liderar Moçambique no contexto da crise actual? O país depara-se com problemas multifacetados, que incluem o terrorismo em Cabo Delgado, interferências estrangeiras em assuntos internos, a gestão de recursos minerais e uma sociedade profundamente fragmentada. A crise agudiza-se com funcionários públicos a manifestarem-se contra atrasos nos salários.

 

Embora não me competa avaliar directamente o perfil de Daniel Chapo, dado que a sua "bibliografia" já é amplamente conhecida e debatida nas redes sociais, é crucial interrogar e compreender as motivações subjacentes à sua escolha. É fundamental ponderar se estas motivações atendem verdadeiramente às necessidades do povo moçambicano ou se, pelo contrário, estamos perante uma manobra política destinada mais a preservar o status quo do que a promover o bem-estar nacional.

 

Parece-me que muitos estão excessivamente focados em celebrar a suposta derrota de Filipe Nyusi, que não conseguiu impor o seu candidato preferido, Roque Silva, sem perceberem que Daniel Chapo fazia parte dos pré-candidatos desde o início. Neste intrincado jogo de xadrez político, o verdadeiro vencedor parece ser o actual presidente da Frelimo, que soube impor os seus candidatos ao Comité Central, assegurando que a escolha do candidato presidencial estivesse alinhada com as suas preferências.

 

Esta estratégia lembra as lições de Sun Tzu em "A Arte da Guerra", que sublinha a importância da dissimulação: “Quando capaz, finja ser incapaz; quando activo, finja desespero; quando próximo, finja estar distante; quando distante, faça-os acreditar que está próximo”. Este princípio de engano transcende a cultura oriental. Na história ocidental, o Cavalo de Troia é um exemplo paradigmático. Os gregos, simulando uma retirada, deixaram como presente um imenso cavalo de madeira, que os Troianos, ingenuamente, acolheram dentro das suas muralhas, sem saber que ele continha um contingente de soldados prontos para um ataque surpresa.

 

Portanto, meus compatriotas, celebrar qualquer mudança substancial neste momento é prematuro. Moçambique encontra-se numa encruzilhada, atravessando uma crise sem precedentes. Libertar-nos deste sufoco exige mais do que uma simples mudança de liderança; requer um presidente com a coragem de romper completamente com as práticas do passado, alguém que esteja livre de compromissos, agendas ocultas e da dívida de favores aos seus mestres.

 

Diante deste cenário, surge a inevitável questão: será Daniel Chapo, o candidato endossado por Filipe Nyusi, uma mera continuação das políticas anteriores ou a esperança de uma verdadeira mudança?

 

Além disso, qual é o posicionamento da oposição perante este candidato? Estará simplesmente a assistir, posicionada em cima do muro, aplaudindo a eleição do próximo presidente, ou possui uma estratégia para capitalizar esta situação e oferecer uma alternativa mais promissora?