Campanhas Autárquicas em Moçambique: Entre Tradições Desatualizadas e a Voz da Juventude
Recentemente, tive o prazer de ser convidado para o programa "Washington Fora D’ Horas", da emissora americana “Voice of America”. Durante a conversa com o apresentador Amâncio Vilanculos, abordámos a temática do meu mais recente ebook, “Marketing Político Digital: Estratégias para campanhas eleitorais em Moçambique”.
Amâncio questionou-me sobre a minha percepção em relação ao desenvolvimento das campanhas eleitorais no país. Sem hesitação, afirmei que, do meu ponto de vista, as estratégias de marketing político em Moçambique têm evoluído a passos lentos.
Comparando com o que se observava nas campanhas eleitorais de 1994, pouco parece ter mudado. Os partidos de destaque no cenário político moçambicano persistem na utilização de abordagens tradicionais: comícios, visitas porta-a-porta, caravanas e distribuição e colagem de panfletos e merchandising.
Não pretendo, de forma alguma, descreditar tais abordagens. No entanto, é inegável que elas já não se ajustam à realidade contemporânea de Moçambique. Os dados mais recentes do INE indicam que a idade média da população moçambicana é de 17 anos. Isto significa que o grosso do eleitorado é composto por jovens, muitos dos quais estão imersos na era digital. Segundo dados do INCM, cerca de 23% dos moçambicanos têm acesso à internet, o que revela uma geração mais informada, conectada e crítica.
Estes jovens não são influenciados apenas por lemas partidários ou realizações passadas. Querem, acima de tudo, ouvir propostas concretas que ofereçam soluções para os seus problemas do dia-a-dia. O tradicionalismo, neste contexto, não é suficiente para cativar o seu interesse ou voto.
O desafio, portanto, está lançado aos partidos políticos moçambicanos. Se pretendem verdadeiramente alcançar o poder e governar com legitimidade, é imprescindível que compreendam os princípios fundamentais do marketing político moderno. E quando falo de marketing político, não me refiro a uma manipulação do eleitorado, mas sim a uma genuína compreensão das suas necessidades e aspirações.
O candidato ideal deve ser moldado não apenas como um produto atractivo, mas como alguém que, genuinamente, responda aos anseios dos cidadãos. A comunicação deve ser eficaz e adequada à realidade actual, aproximando-se de um eleitorado cada vez mais exigente e informado.
Moçambique tem diante de si uma oportunidade única de renovar a sua política e estreitar os laços com a sua juventude. Resta saber se os seus actores políticos estão preparados para esta evolução.