O último Relatório e Contas confirma que administradores da ENH ganham em média 2,7 milhões por mês
Em meio a uma crise económica que agrava a pobreza e as desigualdades em Moçambique, o último Relatório e Contas da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) confirma que os administradores da empresa receberam, em média, 2,7 milhões de Meticais por mês em 2023. O dado surge após o vazamento de uma folha salarial no final do ano passado, que indicava que alguns membros da administração poderiam estar a auferir mais de 3 milhões de Meticais mensais, chegando a ultrapassar os 6 milhões com subsídios e benefícios. Na altura, a ENH desmentiu os valores, classificando-os como fake news, mas os números divulgados confirmam que os salários milionários são uma realidade naquela instituição.

Segundo o relatório, a empresa gastou 162,8 milhões de Meticais apenas com as remunerações da administração no último ano. Além disso, os custos globais com pessoal atingiram 1,046 mil milhões de Meticais, distribuídos por 222 funcionários. A média salarial na ENH é de 392.957 Meticais por trabalhador, um valor muito acima do rendimento médio dos moçambicanos, que não ultrapassa os 10.000 Meticais mensais.
A divulgação destes dados surge num contexto em que o próprio Presidente da República, Daniel Chapo, reconheceu, no seu discurso de posse, a difícil situação económica do país. “Muitos compatriotas nossos ainda dormem sem pelo menos uma refeição condigna”, afirmou, destacando os desafios enfrentados por médicos, professores e enfermeiros, que continuam a trabalhar sem salários compatíveis com a sua importância para a sociedade.
A gestão da ENH tem sido alvo de críticas devido à forma como a empresa distribui os seus recursos. Apesar de desempenhar um papel estratégico no sector dos hidrocarbonetos, incluindo os megaprojectos da Bacia do Rovuma, a empresa parece beneficiar apenas um grupo restrito, enquanto a maioria da população não sente os impactos positivos dos lucros provenientes dos hidrocarbonetos.
O Governo tem defendido a necessidade de uma maior supervisão sobre as empresas públicas, garantindo que estas operem de forma mais transparente e em benefício do interesse nacional. No seu plano para os primeiros 100 dias de governação, Chapo prometeu -se criar comités independentes para monitorizar os investimentos e as decisões estratégicas das estatais, além de auditorias anuais conduzidas por entidades externas e pelo Tribunal Administrativo. “Queremos um Estado que funcione à vista de todos, com transparência e boa governação”, declarou.
O relatório revela que, em 2023, os custos com pessoal representaram 29,2% do lucro líquido da empresa, que foi de 3,58 mil milhões de Meticais. Estes valores levantam a questão sobre a real eficiência da empresa estatal e a necessidade urgente de reformas para garantir que os recursos do país sejam geridos de forma equitativa.
Com a crescente pressão pública para uma gestão mais responsável das empresas estatais, resta saber se o Governo tomará medidas concretas para reduzir as desigualdades e garantir que os recursos naturais de Moçambique beneficiem todos os cidadãos, e não apenas uma elite restrita.