De Lisboa a Cape Town: LAM enterra sonhos internacionais com 20 milhões USD de dívida
A crise nas Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) aprofunda-se com a suspensão da rota Maputo–Cape Town, deixando a companhia de bandeira reduzida a uma única ligação internacional: Maputo–Joanesburgo, na vizinha África do Sul. A decisão surge depois de uma incursão desastrosa na Europa, com a rota Maputo–Lisboa, que gerou uma dívida acumulada superior a 20 milhões de dólares norte-americanos, enterrando, na prática, as ambições da LAM de se afirmar como operadora de alcance internacional.

Anunciada como uma medida estratégica, a suspensão da rota para Cape Town entra em vigor a 8 de Abril. A direcção da LAM justifica a decisão com a necessidade de reestruturar o plano de negócios, concentrando esforços em destinos domésticos e na sua única rota internacional viável.
Contudo, a narrativa oficial contrasta com a realidade operacional da empresa. Tal como na rota europeia, a operação Maputo–Cape Town revelou-se financeiramente insustentável fora da época turística, com aeronaves a voarem praticamente vazias durante longos períodos do ano. Segundo apurou a TORRE.News, a empresa foi forçada a manter voos com ocupação mínima, acumulando prejuízos num cenário de escassez de receitas e custos operacionais elevados.
Uma fonte próxima da administração da companhia revela que, embora a rota apresentasse algum lucro durante o verão sul-africano, nos restantes meses do ano os encargos tornavam-se incomportáveis. “A operação só era rentável num curto espaço de tempo. No restante período, era praticamente subsidiada pela própria companhia, agravando ainda mais a fragilidade financeira da LAM”, indicou.
Além da sazonalidade da procura, a LAM continua limitada por uma frota insuficiente e envelhecida, o que a obriga a recorrer frequentemente ao aluguer de aeronaves, muitas vezes em condições desfavoráveis e sem o retorno esperado. Esta dependência tem comprometido a viabilidade das suas rotas internacionais, contribuindo para uma série de encerramentos sucessivos, incluindo Maputo–Lisboa, Maputo–Harare e Maputo–Lusaka.
Reduzida agora a uma única rota regional — Maputo–Joanesburgo — a LAM vê desmoronar-se o seu projecto de expansão internacional, alimentado durante anos com promessas políticas e planos de negócios desconectados da realidade do mercado.
A profunda crise levou o Governo a intervir directamente na companhia. Numa tentativa de recapitalização, o Estado alienou parte das suas acções a empresas públicas como os Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique, Hidroeléctrica de Cahora Bassa e EMOSE, visando angariar fundos para a aquisição de novas aeronaves e a reestruturação da empresa.