Dugongo explica que cimento é mais caro em Moçambique devido à importação do carvão e admite vender mais barato fora para obter divisas 

A Dugongo Moçambique, uma das maiores produtoras de cimento do país, justifica o elevado preço do produto no mercado nacional com os custos acrescidos da importação de carvão da África do Sul, enquanto admite que exporta cimento a preços mais baixos para garantir a entrada de divisas. A empresa afirma que, embora Moçambique disponha de reservas de carvão na província de Tete, a inexistência de estradas viáveis torna economicamente inviável o uso deste recurso nacional, obrigando à dependência externa e, consequentemente, ao aumento dos custos de produção. 

Abril 17, 2025 - 10:24
Abril 22, 2025 - 21:59
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Dugongo explica que cimento é mais caro em Moçambique devido à importação do carvão e admite vender mais barato fora para obter divisas 

Em entrevista à TORRE.News, o administrador da área operacional da Dugongo, Issufo Ali, esclareceu que, nas actuais condições, é prematuro falar de redução do preço do cimento. “A redução do preço deve ser analisada com cautela. O cimento não é feito apenas de clínquer. Há outras matérias-primas, como o carvão, que estamos a importar da África do Sul. Gostaríamos de usar carvão de Tete, mas as condições das estradas não permitem”, afirmou. 

Segundo a empresa, a produção de cimento é um processo industrial complexo e dispendioso, que envolve, além do clínquer, o uso de calcário, gasóleo, carvão, energia térmica, equipamentos e matérias-primas importadas. Uma redução forçada do preço, alerta Ali, pode comprometer a viabilidade da cadeia de produção e afectar negativamente todo o sector. 

Para atenuar os elevados custos logísticos, apontados como uma das principais causas da disparidade de preços entre as regiões do país, a Dugongo investiu recentemente na aquisição de dois navios de grande porte para o transporte marítimo de cabotagem. O objectivo é garantir a distribuição do cimento a preços mais acessíveis nas zonas centro e norte. 

Actualmente, o preço do saco de cimento nas províncias do sul varia entre 420 e 450 meticais, enquanto nas zonas norte chega a atingir entre 620 e 650 meticais. A empresa justifica esta diferença com os custos logísticos e de transporte, afastando a ideia de lucros excessivos. “O preço nem sempre é ditado pela empresa, mas sim pelas condições do mercado e da logística”, sublinhou Ali. 

Os dois navios adquiridos pela Dugongo não serão apenas usados para transportar cimento, mas também clínquer, com destino a Nacala, onde está em construção uma nova fábrica da empresa, destinada ao abastecimento do norte do país. 

A empresa também reagiu à recente proposta do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que defendeu a venda do cimento abaixo dos 300 meticais por saco. Para a Dugongo, essa proposta ignora o contexto real de custos. “O carvão e o gasóleo subiram muito. Não é sustentável vender abaixo do custo real”, afirmou a empresa, lembrando que em alguns mercados externos, como a África do Sul, o cimento é vendido abaixo do custo de produção com o objectivo de obter moeda estrangeira necessária para pagar combustível e outras matérias-primas. 

Entretanto, o Ministério da Economia anunciou a intenção de remover a protecção aduaneira de 20% sobre a indústria do cimento, aplicada há vários anos para salvaguardar investimentos estruturantes, como o da própria Dugongo. A medida visa estimular a concorrência e, em consequência, reduzir os preços ao consumidor. 

Sobre esta possível alteração, Issufo Ali preferiu não avançar uma posição, afirmando que a empresa aguardará a decisão formal do Governo para se pronunciar. 

Em 2021, a Dugongo lançou uma nova linha de produção de cimento por via seca, com capacidade diária de 5.000 toneladas e uma central térmica de 3x12 MW, num investimento avaliado em 260 milhões de dólares. A capacidade anual da empresa ronda os dois milhões de toneladas, com um valor de produção estimado em 220 milhões de dólares. 

Na altura, o cimento era vendido abaixo dos 300 meticais por saco, o que permitiu que muitos moçambicanos pudessem construir as suas casas. Hoje, com um cenário económico diferente, marcado por pressões externas, escassez de divisas e aumento dos custos operacionais, a empresa afirma que só será possível baixar os preços com melhorias estruturais na logística, transporte e acesso competitivo a matérias-primas locais.