Paralisada a Central Térmica de Temane: Moçambique adia meta de 600 MW de energia

O sector energético moçambicano volta a enfrentar turbulências com o anúncio da desmobilização das actividades da empresa espanhola TSK no projecto da Central Térmica de Temane (CTT), uma infraestrutura-chave com capacidade prevista de 450 MW. A paralisação, justificada por “questões contratuais”, compromete seriamente o plano nacional de aumentar a geração de energia em 600 MW, uma meta traçada durante o último mandato do ex-Presidente Filipe Nyusi. 

Abril 16, 2025 - 10:31
Abril 25, 2025 - 10:15
 0
Paralisada a Central Térmica de Temane: Moçambique adia meta de 600 MW de energia

A TSK, empresa internacionalmente reconhecida pela construção de usinas eléctricas com tecnologia Siemens, foi seleccionada em 2020 para liderar as obras da central de gás de Temane, localizada em Inhassoro, província de Inhambane. Através de um comunicado publicado na sua página oficial, a empresa anunciou que inicia esta semana a retirada de equipamento e pessoal do local do projecto, suspendendo indefinidamente os trabalhos até que as partes envolvidas cheguem a um entendimento contratual. 

Avaliado em 650 milhões de dólares norte-americanos, o projecto Temane representa não apenas a maior aposta do país em infraestruturas energéticas movidas a gás, como também a âncora para a expansão do sistema eléctrico nacional. Estava previsto que a CTT produzisse 450 MW dos 600 MW de nova capacidade que o Governo pretendia incorporar, ficando os restantes 150 MW a cargo de fontes renováveis, como energia solar e hídrica. 

Com a paralisação agora oficializada, esse objectivo fica ainda mais distante. A interrupção das actividades compromete igualmente a construção de cerca de 520 quilómetros de linha de transmissão de alta tensão, entre Vilankulo e Maputo, crucial para garantir o escoamento da energia gerada e o reforço da rede nacional. 

A Central Térmica de Temane é uma parceria público-privada liderada pela Globeleq, empresa com vasta experiência em África e operações activas na Tanzânia, África do Sul, Costa do Marfim, Camarões e Quénia. O consórcio integra ainda a Electricidade de Moçambique (EDM) e a Sasol como accionistas. Para viabilizar a construção, foram mobilizados financiamentos junto do Banco Mundial, Banco Africano de Desenvolvimento e Banco Islâmico.   

A decisão da TSK ocorre num momento em que Moçambique procura posicionar-se como potência energética regional, tirando partido das suas vastas reservas de gás natural e do potencial hidroeléctrico. Paralelamente ao projecto de Temane, o Governo reactivou nos últimos anos o megaprojecto hidroeléctrico de Mphanda Nkuwa, no rio Zambeze, com uma capacidade estimada de 1.500 MW. No entanto, tal como a CTT, este projecto ainda enfrenta sérios entraves relacionados com o financiamento. 

A paralisação da Central Térmica de Temane representa, assim, mais do que um revés técnico — é um sinal de alarme sobre a fragilidade contratual, a instabilidade nos processos de parcerias estratégicas e os desafios de governança que ainda marcam os grandes projectos em Moçambique. Sem soluções rápidas e eficazes, o sonho da autossuficiência energética e de exportação de energia poderá continuar a ser apenas isso: um sonho adiado.