Access Bank: o novo epicentro de abusos laborais praticados por estrangeiros no sector bancário moçambicano

"As denúncias chegam-nos, mas o poder de actuação está com o Ministério do Trabalho. Infelizmente, não temos visto qualquer intervenção eficaz da Inspeção do Trabalho". A frase é de Ramiro Simbe, secretário-geral do Sindicato Nacional dos Empregados Bancários (SNEB), e resume a frustração crescente perante a passividade institucional face às violações laborais que têm vindo a ganhar terreno no sector bancário moçambicano. Desta vez, os holofotes apontam para o Access Bank Moçambique, recentemente fundido com o BancABC e controlado por capital maioritariamente nigeriano, que se tornou o novo centro de denúncias de abusos laborais cometidos por gestores estrangeiros.

Julho 16, 2025 - 10:18
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Access Bank: o novo epicentro de abusos laborais praticados por estrangeiros no sector bancário moçambicano

Depois de a TORRE.News ter revelado como a banca moçambicana está a ser capturada por interesses externos, com direcções compostas quase exclusivamente por expatriados e quadros nacionais relegados a posições subalternas, o caso do Access Bank surge como uma continuação desta tendência de marginalização institucionalizada. No interior desta instituição financeira, funcionários descrevem o ambiente laboral como “calvário”, marcado por sobrecarga de trabalho, avaliações arbitrárias, contratos pouco claros, demissões abusivas e repressão à actividade sindical.

Uma das denúncias reportadas à TORRE.News prende-se com o não reajuste salarial anual, uma prática comum no sector bancário como forma de mitigar o impacto da inflação. Segundo fontes internas, enquanto outras instituições procederam aos ajustes no primeiro trimestre, o Access Bank recusou essa actualização, alegando “incapacidade financeira”, apesar dos lucros registados nas suas demonstrações mais recentes. “Não se trata de aumento, mas de devolução do poder de compra”, explicou uma fonte em anonimato. “É revoltante ver o banco recusar este ajuste essencial enquanto exibe resultados financeiros positivos.”

Ainda segundo as fontes, a recusa de ajustar os salários é acompanhada por um padrão de repressão à organização laboral. O sindicato confirma que recebeu uma carta anónima detalhando várias das denúncias e que enviou uma comissão para averiguar os factos. Contudo, internamente, acredita-se que o delegado sindical dentro da instituição foi “neutralizado” pela administração, o que poderá comprometer a defesa dos direitos dos trabalhadores.

A direcção do banco, apesar das insistentes tentativas de contacto por parte da TORRE.News, remeteu-se ao silêncio. O mesmo silêncio vem sendo mantido pela Inspeção Geral do Trabalho do Ministério do Trabalho e Segurança Social, entidade que já foi formalmente informada das denúncias. Também o Banco de Moçambique, regulador do sistema financeiro nacional, mantém-se sem resposta pública, mesmo com indícios de que os abusos em curso podem colocar em causa a reputação e a estabilidade do sector.

Quando se fala da gestão do Access Bank, o nome do administrador Chiwetalu Obikwelo, de nacionalidade nigeriana, é recorrentemente apontado como o rosto principal das práticas denunciadas. Acusado de ignorar deliberadamente a legislação laboral moçambicana, Obikwelo é visto por muitos funcionários como promotor de uma cultura institucional que despreza os direitos dos trabalhadores nacionais. “A administração parece actuar com impunidade, colocando os trabalhadores numa posição de submissão dentro do seu próprio país”, revelou uma fonte próxima do grupo de colaboradores afectados.

Este caso, longe de ser um incidente isolado, insere-se num padrão já anteriormente denunciado pela TORRE.News. A presença dominante de expatriados nos cargos de decisão, a ausência de mecanismos legais que garantam quotas para moçambicanos em posições de liderança, e a desigualdade nos salários e regalias criam um ambiente tóxico. O capital financeiro estrangeiro, que poderia ser instrumento de desenvolvimento e inclusão, está a reforçar desigualdades e a promover uma cultura de exclusão.

Enquanto as autoridades não actuarem com firmeza, casos como o do Access Bank continuarão a florescer num sistema que parece ter perdido o compromisso com a justiça social, a equidade e a dignidade do trabalhador moçambicano. Este é mais um alerta de que o país precisa urgentemente de reformas profundas para reconquistar o controlo do seu sistema financeiro.