Angola exige saída imediata das tropas ruandesas da RDC
O Presidente de Angola, João Lourenço, mediador da União Africana para o conflito na República Democrática do Congo (RDC), exigiu a retirada imediata das tropas ruandesas do território congolês, num contexto de intensificação dos confrontos entre o exército congolês e os rebeldes do Movimento 23 de Março (M23). A presença militar do Ruanda na RDC é considerada uma violação do Processo de Paz de Luanda, acordo mediado por Angola para restaurar a estabilidade na região.
Desde 2021, o leste do Congo tem sido palco de violentos combates entre as Forças Armadas Congolesas (FARDC) e o M23, que tem capturado áreas estratégicas na província de Kivu do Norte. Kinshasa acusa Kigali de apoiar directamente os rebeldes, fornecendo armamento e suporte logístico, acusações que o governo de Paul Kagame nega. Nos últimos dias, bombardeamentos na cidade de Goma resultaram em pelo menos 25 mortes, enquanto o Ruanda denuncia ataques das forças congolesas contra o seu território, causando vítimas civis.
A escalada da violência já deslocou mais de 200 mil pessoas, segundo dados das Nações Unidas, e levanta preocupações internacionais. A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e a União Africana (UA) apelaram a um cessar-fogo imediato, enquanto o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, reiterou que a presença de tropas sul-africanas na RDC visa a manutenção da paz e não constitui uma declaração de guerra.
Os Estados Unidos e a França instaram o Ruanda a cessar qualquer apoio ao M23, enquanto o Conselho de Segurança da ONU avalia a possibilidade de impor sanções a Kigali. No entanto, o Ruanda argumenta que a RDC falhou em desarmar as Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR), grupo rebelde hutu que considera uma ameaça directa à sua segurança.
Analistas alertam para o risco de uma escalada regional do conflito, podendo envolver Angola, Uganda e outros países vizinhos, reeditando um cenário de guerra generalizada semelhante às que devastaram a RDC entre 1996 e 2003. A crise humanitária na região agrava-se, com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) a estimar que mais de sete milhões de pessoas estão deslocadas internamente devido a conflitos armados, enquanto cerca de dois milhões necessitam urgentemente de assistência alimentar e médica.
A insegurança nas cidades de Goma, Sake e Rutshuru tem dificultado o acesso de ajuda humanitária, com Médicos Sem Fronteiras (MSF) a alertar para surtos de cólera e malária entre os deslocados, devido à falta de saneamento e água potável. O desarmamento do M23 e a retirada das tropas ruandesas são considerados passos essenciais para a estabilização da região, mas o fracasso de acordos anteriores, como o Acordo de Nairobi, de 2013, gera cepticismo sobre a eficácia de novas negociações.
A cimeira da União Africana, marcada para Fevereiro, poderá ser decisiva para definir estratégias que evitem o alastramento da instabilidade no leste da RDC, uma região historicamente marcada por ciclos contínuos de violência e disputas geopolíticas.