Governo desperdiça milhões de meticas: Professores criticam distribuição livros escolares que serão usados por apenas 3 meses
A decisão do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) de distribuir os livros escolares da 1ª e 2ª classes a partir de Julho de 2024 tem gerado um coro de críticas e descontentamento entre os professores e directores de escolas públicas e privadas.
A Organização Nacional dos Professores (ONP) manifestou a sua indignação com a demora na distribuição dos livros escolares para as primeiras classes do ensino primário em Moçambique, cuja entrega está agora prevista para Julho de 2024.
Segundo os professores, esta acção tardia compromete a eficácia do ensino, sugerindo que os livros deveriam ser guardados para o próximo ano lectivo, evitando, assim, um desperdício de recursos e esforços.
“A esta altura do ano, distribuir os livros escolares que só serão utilizados por dois ou três meses é inútil. Seria mais sensato guardá-los para o próximo ano lectivo,” defendeu Teodoro Muidumbe, secretário-geral da ONP, em declarações exclusivas à TORRE.News.
Muidumbe também criticou a falta de comunicação por parte do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) relativamente à alteração dos prazos de entrega dos manuais.
Hortência Josine, directora pedagógica da Escola Primária 25 de Setembro, em Maputo, partilhou uma perspectiva semelhante, reforçando a insatisfação generalizada.
“Não faz sentido distribuir os livros agora. As crianças só vão utilizar uma pequena parte, o que representa um desperdício evidente,” afirmou Josine, destacando que a melhor solução seria armazenar os livros para assegurar o seu uso integral no próximo ano.
Os professores argumentam que o atraso na chegada dos livros, inicialmente previstos para o início do ano lectivo, compromete a continuidade do processo educativo. Até ao momento, as escolas têm recorrido a material didáctico de anos anteriores e a fichas elaboradas pelos próprios professores para manter o ensino em andamento.
Este recurso, embora funcional, não substitui a necessidade de livros adequados que proporcionem um ensino mais estruturado e eficaz.
Em resposta à crise, o governo introduziu os “Cadernos de Actividades”, uma solução temporária que combina as disciplinas de Português e Matemática.
Contudo, estes cadernos estão disponíveis apenas para a segunda classe, após a recolha de todos os exemplares da primeira classe devido a erros graves. O porta-voz do MINEDH negou que a criação dos cadernos fosse uma medida de contingência face ao atraso dos livros, alegando que se tratava de uma acção planeada previamente.
As escolas privadas também se encontram em dificuldades devido à falta de acesso aos novos livros e cadernos de actividades.
José Marrengula, director pedagógico de uma escola privada em Maputo, salientou que a ausência de material actualizado força as instituições a recorrerem a recursos obsoletos e fichas complementares, uma solução que considera insatisfatória e temporária.
“O material [livro] foi desenhado para o ano todo, então um material concebido dessa forma se for distribuído agora para ser utilizado durante dois ou três meses não é fazer um bom proveito,” disse Marrengula.
Ele argumentou que os livros, quando chegarem, devem ser guardados para o próximo ano lectivo, para assegurar que sejam melhor aproveitados e utilizados de forma plena.
O impacto financeiro desta situação é outro ponto de controvérsia. O custo de produção dos livros, financiado pelo governo com o apoio do Banco Mundial, é visto como um desperdício se os livros não forem utilizados de forma completa.
A falta de clareza e de um planeamento eficaz por parte do MINEDH tem gerado críticas e levantado preocupações sobre a gestão dos fundos e a eficiência das políticas educacionais.
A TORRE.News tentou obter um comentário do MINEDH sobre os custos envolvidos e a estratégia de distribuição dos livros, mas até ao fecho desta reportagem, não obteve resposta.
Informações obtidas pelo jornal “O País” indicam que o Banco Mundial, através do Fundo de Apoio ao Sector da Educação, está a condicionar o financiamento para a produção dos livros escolares.
Segundo fontes, a suspensão dos assessores especializados em procurement que auxiliavam o MINEDH e a subsequente atribuição da tarefa a técnicos desconhecedores das regras do principal financiador são as causas principais do impasse.
Enquanto o Ministério da Educação continua a dar respostas incongruentes sobre a disponibilização dos livros, o processo educativo no país avança de forma pouco eficaz e confortável tanto para os professores como para os alunos das classes iniciais, que são forçados a aprender sem os materiais didácticos essenciais.
Esta situação não só prejudica a qualidade do ensino, mas também dificulta a aprendizagem, especialmente nas classes mais baixas, onde os livros são fundamentais para ajudar a exercitar a escrita e outras competências básicas.
Os professores também levantam questões sobre os custos associados à produção dos livros, argumentando que disponibilizá-los para serem utilizados apenas por alguns meses não se justifica.
A situação actual reflecte uma gestão deficiente e uma falha significativa na política educacional em Moçambique. A distribuição tardia dos livros escolares compromete não apenas o processo de ensino, mas também a confiança dos professores e das instituições no sistema educativo nacional.
A continuidade desta situação poderá ter repercussões negativas de longo prazo na qualidade do ensino e na formação das gerações futuras.