Concessão do Porto de Nacala: "Uma aberração", declara ex-edil
Raul Novinte, antigo edil de Nacala Porto, criticou duramente a recente concessão de parte do Porto de Nacala, um dos mais movimentados da região norte de Moçambique, afirmando que a decisão serve apenas interesses pessoais.
Novinte, que presidiu o município de Nacala Porto durante cinco anos, questiona as motivações por detrás da concessão, considerando-a uma aberração que não beneficia a população local.
Em entrevista exclusiva à TORRE.News, Novinte expressou a sua perplexidade em relação à decisão, sublinhando que, a seu ver, o Presidente Filipe Nyusi parece estar a utilizar a concessão para manter o seu controlo sobre o porto, mesmo após deixar a presidência.
"Eu acho que ele está a fazer manobras para continuar a estar muito próximo do porto mesmo depois de sair da presidência", afirmou Novinte, insinuando que Nyusi poderia estar a garantir uma "fatia" dos ganhos nas operações portuárias.
Novinte também relembrou o passado de Nyusi como antigo director do Porto de Nacala, levantando suspeitas sobre a continuidade da sua influência na gestão do porto após o fim do seu mandato presidencial.
"Não podemos esquecer que o actual Presidente da República foi director do porto", reiterou o antigo edil, acrescentando um apelo ao actual e ao futuro presidente para que não entreguem parte do Porto de Nacala à gestão de outro país.
A polémica sobre a concessão foi intensificada após o anúncio feito durante uma visita de trabalho do Presidente malawiano a Moçambique. Na ocasião, Nyusi declarou a intenção de conceder uma parte do porto ao Malawi, para que este país pudesse utilizar um terminal específico para mercadorias destinadas ao seu território.
"O processo está terminado nos dois países, em termos de expedientes da concessão. Isso vai ajudar", justificou Nyusi na altura.
Contudo, Raul Novinte destacou que, até ao momento, a população de Nacala não tem tirado qualquer benefício directo significativo do porto. Segundo ele, a infraestrutura portuária paga apenas uma taxa simbólica, que não difere dos impostos pagos por outras empresas, deixando a população local praticamente excluída dos ganhos económicos que o porto poderia proporcionar.
As críticas de Novinte reflectem uma crescente insatisfação em relação à forma como os recursos e infraestruturas estratégicas de Moçambique estão a ser geridos, particularmente em relação à transparência e ao impacto real nas comunidades locais.