Diplomacia americana em Maputo agastada com a política externa do Trump
A Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Moçambique, sofreu corte de até 50% do seu orçamento de funcionamento e investimento, implicando fim de programas e redução de postos de trabalho, resultante da política externa do Presidente norte-americano, Donald Trump, para o continente africano.

Em entrevista a TORRE.News, o analista político americano, de origem Ucraniana, Peter Zalmayev, que está em Maputo para uma série de actividades, confirmou o ambiente de tensão que se vive na embaixada americana em Maputo, devido a nova politica externa que recomenda cortes drásticas nas representações americanas no continente africano, incluindo Moçambique que recebia vários fundos vindos daquele país, sob forma de apoio há vários projectos, sobretudo no sector da saúde.
Segundo a fonte, diplomatas seniores americanos em Maputo, estão desiludidos com a administração Trump, e vaticinam retrocessos nos ganhos alcançados durante décadas de intervenção americana em Moçambique.
“essa decisão é um caos. Infelizmente, África não deve esperar nada de bom. A administração já anunciou que vai diminuir a sua presença diplomática no continente. Na minha conversa com um diplomata americano sénior em Maputo, fiquei a saber que cerca de 50% do orçamento da Embaixada dos EUA foi cortada, em grande parte devido ao fim da USAID, mas também devido a esta recente decisão de reduzir o tamanho das embaixadas em toda a África”, disse Peter Zalmayev a TORRE.News, considerando estranho e contraproducente os cortes drásticos na Embaixada americana em Maputo.
Considerou as barreiras tarifárias impostas a Moçambique e a outros países africanos como prejudiciais para os países pobres, realçando que, a indignação a nível global forçou Trump a suspender a maior parte dos direitos aduaneiros, mas que, os danos a longo prazo poderão permanecer. “Já teve um impacto extremamente negativo em todos os sectores e em todo o mundo. Tem sido aplicada de uma forma ilógica e injusta. um exemplo disso é o Lesoto, com a sua tarifa de 50%. Acrescentaria a isso a decisão de Trump de cortar os programas da USAID, o que certamente resultará no aumento de doenças transmissíveis e epidemias em Moçambique e no continente”, alertou.
A fonte abordou igualmente sobre a geopolítica, centrando-se no conflito Rússia-Ucrânia, alertando que os blocos estão a tirar partido, nomeadamente a Nato e os BRICS. De acordo com Peter Zalmayev, sob o comando do Presidente Biden, a NATO foi a maior beneficiária guerra, uma vez que os seus membros perceberam que a sua força reside na unidade e que, por isso, era necessário reforçar ainda mais a o bloco com a entrada de mais dois novos membros, nomeadamente, Finlândia e Suécia. “Isso mudou com o regresso de Trump ao poder e a sua retórica cética em relação à NATO, a menos que até que seja testada por uma potência beligerante como a Rússia, não é claro quão ativa é a pedra angular da NATO”, referiu.
Por outro lado, segundo a fonte, os BRICS também beneficiaram da pressão da Rússia para o seu aprofundamento e alargamento, com a entrada de mais no ano passado. “Mas ainda não é claro o que é exatamente os BRICS e quão fortes são os seus mecanismos, mas a Rússia está a fazer tudo o que pode para o transformar num bloco de nações anti-ocidental, anti-liberal e democrático”, vinca.
Enquanto a guerra não cessa, para a fonte, o impacto tem sido tremendo e, durante a sua digressão por 40 países, incluindo Moçambique, os países queixam-se do aumento drástico dos preços dos alimentos e dos combustíveis. “Infelizmente as perspectivas de um fim rápido para esta guerra, como Trump descobriu, permanecem distantes”, rematou.