"Maldita" Internet!
Numa terra distante, onde o sol abrasador tingia o índico de dourado e as lendas de bravura e luta pela liberdade eram cantadas ao redor das fogueiras, os libertadores erguia-se como um monólito inabalável. Eles eram os titãs da independência, os guerreiros que haviam arrancado o país das garras do colonialismo. Mas, como toda epopeia, o tempo traz consigo ventos de mudança, e com eles, tempestades inesperadas.
Após a euforia da independência, o país foi encurralado por uma guerra civil devastadora, mas renasceu das cinzas com uma chama renovada: a promessa da democracia multipartidária, um acordo dos libertadores e os resistentes.
Contudo, as eleições eram frequentemente manchadas por sussurros e murmúrios de fraude, embora provas concretas fossem tão evasivas quanto miragens no deserto. Os libertadores, com sua aura de invencibilidade, olhavam confiantes para o futuro, sem pressentir as nuvens no horizonte.
E então, das profundezas do desconhecido, surgiu a maldita internet.
Não era apenas uma inovação; era um meteoro, uma força cósmica que colidiu com o mundo como conheciamos. Para alguns, era um portal para o infinito, uma janela para o universo. Mas para muitos, tornou-se o farol da verdade, desvendando as sombras e expondo as fissuras no pedestal dos libertadores. A internet não era apenas uma ferramenta; era uma revolução.
A juventude, com seus dedos ágeis e mentes inquietas, foi seduzida por este ciberespaço. Eles não apenas questionavam, eles desafiavam. Os segredos outrora guardados a sete chaves pelos libertadores agora eram projectados como hologramas para o mundo ver. A corrupção, os escândalos, as traições - tudo estava à mostra.
Os libertadores, em sua complacência, riram da tempestade digital menosprezaram o seu poder de influência, alguns dos seus simpatizantes chamaram de ruídos do “e-povo”.
As eleições chegaram, e o ciberespaço fervilhava. Acusações de fraude eleitoral se espalhavam como fogo selvagem, e o “e-povo”, armado com a suposta verdade, saiu das sombras digitais para as praças e avenidas, clamando por justiça.
Os libertadores, agora desorientados, tentaram apagar o incêndio que haviam subestimado. Tentaram deslegitimar a internet, mas a maré já estava alta demais. O “e-povo”, uma vez adormecido, agora estava desperto e rugia com uma voz uníssona.
Mais de 24 anos se passaram, e o desfecho das eleições permanece um enigma. Murmúrios correm pelos corredores do poder: os libertadores não estão dispostos a ceder. Mas o povo, fortalecido pela resistência, promete não recuar. O horizonte parece carregado, e dias tempestuosos se avizinham. A maldita internet, com sua promessa e perigo, havia reescrito o destino da nação, e o próximo capítulo ainda estava por ser escrito.