Moçambique: Empresas italianas mantêm resiliência apesar da falta de divisas no mercado
A escassez de moeda estrangeira em Moçambique está a comprometer as operações de empresas italianas, com destaque para a INALCA, gigante italiana do sector alimentar, responsável pela importação e distribuição de proteínas animais em todo o país.

Apesar da resiliência, a empresa alerta que as limitações cambiais estão a reduzir a capacidade de importação, com impacto directo no abastecimento de produtos básicos às famílias moçambicanas.
“O maior desafio que enfrentamos hoje é a falta de divisas. Não conseguimos trocar moeda local por moeda forte para pagar fornecedores no exterior. Isto cria várias limitações, porque, como grupo, queremos crescer muito mais, mas estamos fortemente limitados”, afirmou Luigi Giglio, Diretor das Operações da INALCA em Moçambique, em entrevista durante a FACIM 2025.
A empresa, líder na importação de carne bovina, frango e peixe, movimenta mensalmente cerca de 100 contentores de produtos congelados, além de iniciar uma linha de secos, ainda em fase experimental. Com filiais em Maputo, Beira, Nampula e Pemba, a INALCA dispõe de uma capacidade de armazenamento superior a 14 mil toneladas e uma frota logística que assegura a distribuição a nível nacional.
“O dia em que tivermos acesso a divisas de forma congruente, vamos aumentar significativamente as nossas importações. Isso vai ajudar a população a ter maior acesso a produtos básicos de qualidade”, reforçou Giglio, sublinhando que os bens comercializados pela INALCA fazem parte da cesta básica de consumo em Moçambique.
Além do impacto económico, a empresa destaca também o contributo social da sua presença no país, com a criação de mais de 100 postos de trabalho directos e outros 200 indiretos, envolvendo transportadores, despachantes e prestadores de serviços. “No total, estimamos que a nossa operação sustente cerca de 300 empregos”, destacou o responsável.
A crise cambial tem obrigado a empresa a limitar os pedidos ao exterior, condicionando a regularidade no fornecimento de produtos. “Não podemos pedir muitos produtos sem antes pagar. Isso quebra a continuidade do abastecimento e impede que tenhamos stocks suficientes”, explicou Giglio.
Apesar das dificuldades, a INALCA reafirma a sua aposta no mercado moçambicano, reforçando investimentos em infraestruturas e diversificação da oferta. A empresa está a expandir o seu armazém em Maputo e a explorar novas linhas de produtos italianos para distribuição em todo o país.
A presença da INALCA em Moçambique integra a estratégia de internacionalização do grupo italiano, que procura aliar eficiência logística a preços competitivos. “O mercado moçambicano responde bem, mas é muito sensível ao preço. Trabalhamos para manter a melhor qualidade possível dentro de uma faixa acessível”, afirmou Giglio.
O empresário destacou ainda a importância da participação da empresa na FACIM 2025, onde apresentou a nova linha de produtos secos e consolidou contactos com parceiros institucionais e privados. “Queremos que fique claro que a INALCA em Moçambique não vende apenas congelados, mas também está a apostar em novos segmentos. Estamos satisfeitos com os resultados”, acrescentou.
No entanto, Giglio alertou que, sem soluções estruturais para a crise cambial, o crescimento das operações e a capacidade de abastecimento ao mercado interno continuarão condicionados. “As divisas são a chave para expandirmos, gerarmos mais emprego e darmos maior acesso a alimentos básicos à população”, concluiu.
Ainda sobre a falta de moeda estrangeira no sistema financeiro moçambicano, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) ja alertou sobre a escassez de divisas no mercado nacional, factor que pode contribuir para o aumento da inflação.
CTA tem exibido documentos que apontam para a falta de liquidez em moeda estrangeira nos bancos comerciais para os clientes, bem como uma lista de empresas cujas facturas foram submetidas aos bancos comerciais para pagamento e que não foram satisfeitas. De acordo com a agremiação, os valores desta lista apresentada ao Banco de Moçambique estão estimados em 402 milhões de dólares.