26 de Outubro: O Dia da Vergonha Nacional
Numa data que ficará para sempre gravada na história de Moçambique, a cúpula dos órgãos de administração eleitoral, sob a sombra de um homem que se proclama "Homem de Deus", virou as costas aos apelos vindos de todas as direcções. Ignoraram a lei dos homens e a divina, desonrando a verdadeira vontade do povo.
Dom Carlos Matsinhe, ao endossar tal fraude e ao transferir a decisão final para o Conselho Constitucional, repetiu o acto infame de Pilatos com Jesus Cristo. Mesmo ciente da inocência de Cristo, Pilatos entregou-o para ser crucificado, lavando as suas mãos da responsabilidade. De forma similar, a Comissão Nacional de Eleições, dirigida por um suposto servo de Deus, permitiu que resultados distorcidos fossem aceites, passando a decisão ao Conselho Constitucional, um órgão já comprometido por enviesamentos políticos.
A esperança dos moçambicanos reside no acórdão do Conselho Constitucional. Contudo, tememos que essa esperança seja em vão, assinalando o fim da democracia sonhada pelos nossos fundadores. O cenário actual é de cortar o coração, fazendo lembrar uma tragédia cinematográfica. Os heróis que outrora libertaram esta nação parecem agora resignados ou indiferentes ao seu declínio. O clamor do povo ecoa nas ruas, e o silêncio torna-se uma traição à memória daqueles que lutaram pela liberdade.
Contexto Político
O mandato do actual governo de Filipe Nyusi termina em breve. Dado que pouco ou nada foi feito em benefício dos moçambicanos, e face à crispação interna, sobretudo entre a ala Guebuza e os próximos a Nyusi, principalmente devido às dívidas ocultas, era do interesse do actual governo conseguir números eleitorais históricos para os usar como trunfo na próxima reunião magna da Frelimo. O objectivo é permitir que Filipe Nyusi indique alguém da sua confiança como candidato às presidenciais de 2024, assegurando que essa pessoa garanta protecção a Nyusi face ao descontentamento com os Guebuzistas e os processos das dívidas ocultas em Moçambique e em Londres.
Celso Correia, o Dinheiro e a Fraude
Celso Correia é o cérebro da fraude. Mas isto não é de agora. É necessário recuar até às primeiras eleições que levaram Nyusi à Ponta Vermelha. Naquela altura, Celso Correia desempenhou um papel crucial. Aliás, é importante recordar que foi Celso Correia quem pagou aos membros do Comité Central que votaram em Nyusi nas internas. Quando Nyusi foi à segunda volta com Luísa Diogo, Celso Correia encarregou-se de distribuir dinheiro pelos membros do CC para que Nyusi fosse eleito. Isso valeu a Celso Correia um lugar de destaque na governação de Nyusi. Em alguns casos, questionava-se quem era o Presidente da República: se Nyusi ou Correia. Devido à sua influência, Celso conseguiu ascender à Comissão Política. Observando a sua trajectória, Celso Correia acreditou que apenas com dinheiro seria possível alcançar os números históricos pretendidos. Segundo as nossas fontes, Celso Correia errou precisamente aí, pois negligenciou a parte intelectual da fraude. Fontes internas da Frelimo revelaram que Celso confiou apenas no dinheiro para corromper a Comissão Nacional de Eleições e o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral a nível central e distrital. Também depositou confiança nos tribunais e no Conselho Constitucional, negligenciando muitas estruturas locais do partido Frelimo que frequentemente participavam na fraude não por dinheiro, mas por militância partidária. Apesar de a oposição se ter preparado para as eleições, foram os próprios membros da Frelimo, desde o nível local, que revelaram o esquema de fraude à oposição.
Redes Sociais
Face aos media tradicionais que parecem alinhar-se com a Frelimo, as redes sociais emergiram como uma alternativa vital na disseminação de informação. A Frelimo pode ter tido as suas falhas no passado, mas hoje, com quase todos os cantos do país conectados por smartphones e acesso à internet, um acto ilícito em Namanhumbir pode ser conhecido globalmente em instantes. Recebemos relatos de fraude de várias partes do país, o que foi crucial para que esta fosse amplamente divulgada.
Assim, o que ocorreu recentemente não é, por si só, uma surpresa. O que realmente choca é a audácia e a escala da fraude, que desencadeou uma onda de indignação popular. Esta fúria foi evidente nas marchas organizadas pela Renamo em várias cidades, nomeadamente em Maputo, Matola, Quelimane, Tete e Nampula.
A TORRE destacou, pelo menos, três aspectos cruciais: o término de um mandato e a pressão para apresentar resultados eleitorais significativos para salvaguardar os interesses de certos grupos; a confiança da gestão da fraude a alguém ambicioso com aspirações presidenciais, que, habituado a usar o dinheiro como meio para atingir os seus fins, acreditou que o capital seria suficiente para alcançar qualquer objectivo; e o poder dos media, em particular das redes sociais, na divulgação e propagação da informação.
(TORRE)