A educação em Moçambique: Uma conspiração contra o Progresso?
No palco da educação em Moçambique, onde o novo ano lectivo desdobra as suas cortinas sob o mesmo cenário de desafios antigos, uma pergunta insidiosa insinua-se nas sombras: a quem interessa a perpetuação de um ensino de qualidade questionável? A narrativa, repleta de vicissitudes, convida a uma análise mais aprofundada, não apenas dos sintomas, mas das potenciais causas ocultas que sustentam este estado de coisas.
A tese de uma conspiração não é invocada levianamente, mas emerge da contemplação crítica de uma série de anomalias sistémicas: erros crassos em livros escolares, carência gritante de infraestruturas adequadas, formação precária de professores, salários que beiram o indigno e a controversa política de passagens automáticas.
Estes elementos, longe de serem meras falhas operacionais, poderiam ser interpretados como engrenagens de uma máquina desenhada para manter o status quo, servindo interesses de uma elite restrita ou de influências externas que lucram com a manutenção de uma população menos informada e crítica.
A teoria da "mão externa" tem sido, historicamente, um recurso explicativo para os males que afligem o continente africano, sugerindo a manipulação por forças forasteiras que se beneficiam do controle sobre sociedades mantidas em estado de dependência e subdesenvolvimento.
Contudo, seria simplista e redutor atribuir a responsabilidade exclusivamente a agentes externos, ignorando a possível cumplicidade interna de compatriotas que, sedentos por manter ou ampliar seu poder e influência, encontram na educação deficitária um terreno fértil para a perpetuação da sua supremacia.
O adágio "na terra dos cegos, quem tem um olho é rei" ilustra com acuidade este cenário, sugerindo que a manutenção de uma população "cega" - ou seja, desprovida de educação de qualidade, crítica e técnica - favorece a ascensão e manutenção de "reis" que, embora possam não deter a plenitude da visão, destacam-se e governam pela mera posse de uma visão parcial.
Neste contexto, a educação deficitária não é um mero acidente de percurso, mas uma ferramenta estratégica de controlo social e político.
Os erros nos livros escolares, longe de serem meras falhas editoriais, refletem uma desatenção ou, na perspectiva mais cínica, uma deliberada inserção de desinformação, visando perpetuar concepções erróneas e limitar o pensamento crítico.
A falta de instalações adequadas e a formação precária dos professores não são apenas sintomas de desinvestimento, mas indicativos de um desinteresse em promover um ambiente de aprendizagem que estimule a excelência e a inovação. Os salários miseráveis dos professores, além de denotarem um desrespeito pela profissão, contribuem para a desmotivação e para a diminuição da qualidade do ensino, fechando o ciclo de deterioração educacional.
As passagens automáticas, promovidas sob o véu de estatísticas inflacionadas, mais não fazem do que diluir o mérito e a competência, pilares fundamentais de qualquer sociedade que aspire ao progresso.
Ao lançar luz sobre estas questões, não pretendemos meramente alimentar teorias conspiratórias, mas sim convocar uma reflexão crítica sobre os múltiplos actores e interesses que se entretecem no tecido da nossa estrutura educativa.
É imperativo questionar, desafiar e, sobretudo, agir no sentido de reverter esta maré, reconhecendo que a educação é a espinha dorsal do desenvolvimento sustentável e da verdadeira emancipação.
Assim, ao contemplarmos o início de mais um ano lectivo, não podemos ficar indiferentes nem resignados perante esta realidade. É urgente reivindicar uma educação de qualidade como direito inalienável de cada moçambicano, uma luta que deve unir governantes, educadores, pais e alunos numa frente comum contra as forças, sejam elas internas ou externas.