Barcos das "Dívidas Ocultas": Ferrugem, dívidas e um leilão sem propostas
O leilão das embarcações envolvidas no escândalo das "Dívidas Ocultas", um dos maiores casos de corrupção em África, terminou sem atrair nenhum interessado. As 24 traineiras, abandonadas e enferrujadas no porto de Maputo, permanecem como um símbolo de desperdício financeiro e de má gestão, enquanto Moçambique enfrenta as consequências de uma crise económica e social prolongada.
De acordo com o Financial Times, o leilão foi prejudicado pela instabilidade política e social resultante dos protestos pós-eleitorais, que já causaram dezenas de mortes e paralisaram a capital do país. David Leal, gestor da Leilosoc, responsável pelo leilão em nome do governo, confirmou que potenciais compradores da África do Sul e da Namíbia cancelaram inspecções devido à insegurança. "Apesar da deterioração visível, os motores das embarcações ainda estão em bom estado, tornando-as uma oportunidade de investimento na pesca", afirmou Leal, acrescentando que o leilão será reprogramado quando o clima político for mais favorável.
As embarcações, avaliadas entre 270 mil e 1,4 milhões de dólares, são um resquício do esquema de corrupção que desviou 2 mil milhões de dólares, envolvendo políticos moçambicanos, o banco Credit Suisse e a construtora naval Privinvest. Mesmo que todas fossem vendidas pelos preços de reserva, o governo arrecadaria apenas 10,6 milhões de dólares, um valor insignificante comparado ao impacto financeiro do escândalo.
Originalmente adquiridas por 22 milhões de dólares, as traineiras foram posteriormente avaliadas pela auditoria da Kroll a um valor onze vezes inferior ao custo inicial. O relatório revelou um rombo substancial nas finanças públicas, levando à suspensão de financiamentos internacionais por parte do FMI e de outros doadores, mergulhando Moçambique numa crise sem precedentes.