Muro fronteiriço da África do Sul: Um elevado custo para culpar Moçambique pelo crime
O governo sul-africano continua a investir milhões na construção de um muro na fronteira com Moçambique, alegando combater o crime transfronteiriço, mas a medida levanta preocupações sobre a sua verdadeira eficácia e a responsabilidade pelo aumento da criminalidade. O projecto, que já custou mais de 50 milhões de rand (aproximadamente 2,6 milhões de dólares) na sua primeira fase, espera consumir até 270 milhões de rand (cerca de 15 milhões de dólares) para cobrir uma área de 25 km ao longo da fronteira no nordeste de KwaZulu-Natal (KZN).
Siboniso Duma, chefe do Departamento de Obras Públicas da África do Sul, defende que a protecção desta fronteira é crucial, dada a sua localização estratégica no distrito de uMkhanyakude, uma zona de grande atracção turística e investimento. Contudo, ao colocar a culpa do crime transfronteiriço exclusivamente em Moçambique, as autoridades sul-africanas parecem ignorar os problemas internos que contribuem para o aumento da criminalidade no país. A declaração de Duma de que a construção do muro reduziu significativamente o número de veículos roubados que cruzavam a fronteira para Moçambique — "Só no ano passado, 30 veículos roubados por mês cruzaram para Moçambique" — parece mais uma tentativa de justificar um projecto caro do que uma solução eficaz para o problema.
Desde o início do projecto, em 2018, a construção do muro foi promovida como uma forma de limitar o tráfico de veículos e outros crimes. No entanto, a decisão de rescindir o contrato com uma das empresas envolvidas, devido ao incumprimento das suas obrigações, levantou dúvidas sobre a gestão do projecto e a sua real utilidade. A primeira fase, que cobre 8 km, deverá ser concluída até Dezembro, mas com os altos custos envolvidos, surge a questão: será esta barreira realmente uma solução ou apenas um símbolo de políticas mal orientadas?
O projecto está a ser desenvolvido em três fases, mas em vez de concentrar esforços numa cooperação efectiva entre os dois países para resolver as causas profundas do crime, o governo sul-africano opta por construir muros físicos, numa tentativa de isolar-se dos problemas que também têm origem interna. Duma reconheceu que Moçambique tem feito esforços para combater o crime, mas a insistência em construir o muro sugere que a África do Sul está mais interessada em projectos dispendiosos e simbólicos do que em enfrentar os desafios reais.
Além disso, embora o governo tente apresentar o projecto como uma oportunidade de desenvolvimento local — com 40 jovens treinados e empregados através do National Youth Service Programme — a verdade é que este investimento massivo poderia ter sido melhor direccionado para iniciativas de segurança cooperativa entre os dois países, ou para lidar com as causas sociais que alimentam o crime.