Nyusi admite fracasso na criação de empregos para jovens
Durante a sua investidura para o segundo mandato, em Janeiro de 2020, o Presidente da República, Filipe Nyusi, prometeu à sociedade moçambicana, em particular aos jovens, a criação de mais de 3 milhões de empregos.
Contudo, na sua intervenção durante a abertura da II Conferência Nacional sobre Diálogo Social, evento que decorreu ontem (10) em Maputo, Nyusi revelou que, nos últimos cinco anos, foram gerados no país pouco mais de 1,3 milhão de empregos, muito abaixo da meta programada.
“O sector privado e sector público, de forma global, geraram 1.364.204,49 empregos entre permanentes, temporais e sazonais”, disse Nyusi, numa clara confissão de que não cumpriu a meta que se propôs alcançar quando foi reconduzido em 2019.
Ele justificou a falta de cumprimento da promessa com a conjuntura económica que condicionou as actividades das empresas e a capacidade destas de cobrir custos de remunerações.
“Os empregadores durante os últimos anos viveram problemas. Outras empresas tiveram que encerrar na totalidade as suas operações”, vincou Nyusi.
Ainda esta semana, Oswaldo Petersburgo, Secretário de Estado para Juventude e Emprego (SEJE), foi ao programa "Cartas na Mesa" da Rádio Moçambique (RM) para promover as grandes realizações do executivo.
Estranhamente, em mais de uma hora de conversa, não mencionou uma única vez os três milhões de empregos, objectivo pelo qual a instituição que dirige foi criada em 2020.
Petersburgo divagou em programas com nomes bonitos (EMPREGA e ACREDITA EMPREGA) mas sem apresentar números que sustentem qualquer impacto desses programas na promoção de emprego.
Com poucos meses restantes para o fim do mandato, Petersburgo apenas mencionou 50 mil empregos previstos no programa EMPREGA, mostrando-se reticente e culpando constrangimentos ligados à Covid-19 e restrições financeiras.
“Esta meta tem tudo para ser alcançada. O programa poderia ter tido outra rapidez e falar de alguns resultados em 2023 e 2024, mas não podemos esquecer que tivemos Covid-19, ciclones e restrições financeiras”, salientou filosoficamente.
O incumprimento da principal meta do governo revela que os programas do SEJE e outras iniciativas do executivo representam uma autêntica burla, semelhante ao SUSTENTA, do Celso Correia, ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural.
Quase todos gastam a maior parte do orçamento em campanhas de “charme”, em vez de alcançarem a intervenção social almejada.
Falsas promessas
Durante a sua investidura, Filipe Nyusi prometeu criar e dirigir um gabinete para resolver o problema do desemprego.
"Esse gabinete terá a missão de assessorar-me na implementação de iniciativas de criação de oportunidades de emprego. Por isso, precisamos de criar uma estrutura dirigida por mim mesmo com a atenção virada para o emprego", disse Filipe Nyusi em 2020.
Na constituição do seu governo, Nyusi deu sinais de vontade de cumprir a promessa, criando a SEJE e entregando-a a Oswaldo Petersburgo. A nova instituição nasceu praticamente no berço de ouro, recebendo 75 milhões de dólares norte-americanos doados pelo Banco Mundial (BM) para fomentar a criação de empregos.
Contudo, a SEJE, através dos seus programas e do Instituto Nacional de Emprego, não conseguiu cumprir a promessa de Nyusi. O Chefe do Estado não hasteou sozinho a bandeira dos três milhões de empregos; todo o seu executivo o fez.
Em Março de 2020, o Conselho de Ministros anunciou a proposta do Plano Quinquenal, com foco na criação de três milhões de postos de trabalho.
"Espera-se três milhões de empregos e há condições para que os números sejam alcançados", disse, na altura, Filimão Suaze, porta-voz do Conselho de Ministros.
A SEJE organizou a Reunião de Alto Nível sobre Emprego, lançando o “Plano de Acção de Políticas de Promoção de Emprego” para enfrentar a taxa de desemprego, então em torno de 24%.
O então Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, apresentou um programa prometendo reduzir o desemprego no país. “Estamos a implementar a política de emprego que define de forma clara quais os caminhos a seguir para atingirmos os objectivos preconizados”, afirmou.
Em 2022, Osvaldo Petersburgo ainda insistia na meta dos três milhões de empregos, apesar da realidade desfavorável. Analistas consideravam a meta irrealista, visto que muitos jovens continuavam desempregados.
Passados mais de quatro anos, a meta está longe de ser atingida, a promessa continua uma miragem e o tema tornou-se um tabu nas hostes governativas.
Ouvida pela TORRE.News, a Organização dos Trabalhadores de Moçambique (OTM) afirma que o desemprego no país tende a aumentar, principalmente entre os jovens, que representam mais de 50% da população moçambicana.
Dados do último Inquérito ao Orçamento Familiar (2022) revelam que o desemprego afecta cerca de 18,4% da população com idade para trabalhar, sendo os níveis mais críticos registados na cidade e província de Maputo.
A sociedade civil moçambicana já previa o descalabro da meta do governo, tendo feito uma análise que mostrou que, nos primeiros dois anos do mandato, foram criados 443.924 empregos. Na melhor das hipóteses, até 2024 poderiam ser criados 1.109.810 empregos.
Num ano eleitoral, se os moçambicanos estivessem preparados para exercer a cidadania como acontece noutros quadrantes, o partido no poder pagaria caro a factura das promessas não cumpridas.