ONU revela sofisticação crescente dos terroristas em Cabo Delgado
O relatório das Nações Unidas (ONU) sobre segurança em Cabo Delgado refere-se aos rebeldes do Ahl al-Sunna wal-Jamaa, grupo que reivindica ataques sob a bandeira do Estado Islâmico Moçambique, e afirma que as operações deste grupo aumentaram na primeira metade de 2024.
De acordo com o documento, o fenómeno coincidiu com a retirada faseada das forças da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM).
Este relatório da ONU desmente a narrativa do Governo de Moçambique e vários discursos do Presidente da República, Filipe Nyusi, que tem afirmado que o terrorismo está a ser enfraquecido em Cabo Delgado. Aliás, é com base nesse argumento de avanços das tropas no teatro operacional norte que o executivo tenta convencer a TotalEnergies a retomar suas operações na base logística de Afungi, em Palma, abandonadas por motivos de segurança que forçaram a TotalEnergies a invocar “Força Maior”.
O relatório avança que, actualmente, o grupo dos terroristas tem mais de 350 combatentes no terreno em Cabo Delgado, organizados em três grupos principais que semeiam medo nas populações dos distritos mais afectados pela insurgência, concretamente na região norte da província. O documento da ONU estima que os terroristas evoluíram de grupos de 200 elementos para grupos de 3500 elementos de Janeiro deste ano até esta parte.
“O ASWJ voltou a tentar expandir o teatro de conflito,” sobrecarregando as forças moçambicanas e as dos seus aliados, e as suas tácticas “são mais sofisticadas, calculadas e bem executadas,” lê-se no relatório.
A ONU lembra o ataque ocorrido a 10 de Maio no distrito de Macomia, que a empresa de gestão de riscos Focus Group disse ter mostrado a capacidade sustentada dos insurgentes de realizar ataques em grande escala. Eles ocuparam a cidade por mais de 24 horas, antes de partirem em 12 de Maio com bens saqueados e veículos roubados, afirmou a Focus num relatório do mês passado. O ataque provocou baixas consideráveis no exército moçambicano, que se viu obrigado a movimentar a tropa ruandesa para ajudar a recuperar Macomia.
O documento reitera que os insurgentes apoiados pelo Estado Islâmico em Moçambique, que têm operado perto de um projecto de gás natural liquefeito (GNL) de 20 mil milhões de dólares que a TotalEnergies pretende retomar este ano, estão a tornar-se cada vez mais activos e a empregar tácticas mais sofisticadas, alerta o relatório divulgado esta semana.
Moçambique tinha repelido os rebeldes com a ajuda de tropas de um bloco da África Austral e do Ruanda, mas houve um ressurgimento da violência este ano na província nordeste de Cabo Delgado. A missão militar regional completou sua retirada mês passado, agudizando ainda mais o risco do conflito.
“A situação na Província de Cabo Delgado está mais fluida após uma mudança no cenário de segurança,” disse a Equipa de Monitorização de Apoio Analítico e Sanções num relatório ao Conselho de Segurança da ONU. “Houve um aumento de ataques cuidadosamente orquestrados.”
O CEO da TotalEnergies, Patrick Pouyanne, assegura que a empresa esperava avançar com o projecto até o final do ano.