Presença militar ruandesa em Moçambique: Instituto para Estudos de Segurança alerta para consequências a longo prazo

O crescimento substancial da presença militar ruandesa em Moçambique nos últimos anos tem suscitado preocupações tanto no país como na região. De acordo com o Instituto para Estudos de Segurança, sediado na África do Sul, o número de tropas ruandesas em Moçambique aumentou drasticamente, passando de 1.000 para cerca de 5.000 em três anos, com as operações militares a expandirem-se para cinco distritos da província de Cabo Delgado.

Setembro 27, 2024 - 09:46
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Segundo um estudo publicado antes de ontem, este aumento de forças data de Julho de 2021, altura em que cerca de 1.000 agentes da Força de Defesa de Ruanda e da Polícia Nacional de Ruanda chegaram à província de Cabo Delgado, uma região gravemente afectada pelo extremismo violento. Desde então, os ataques a civis e à infraestrutura pública aumentaram, levando a uma intervenção militar estrangeira.

Ao mesmo tempo que o destacamento ruandês foi enviado, a Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM) também foi mobilizada para a região, mas para áreas mais distantes dos projectos de gás. Este apoio da SAMIM terminou este ano, e, de acordo com fontes oficiais, havia uma falta de coordenação e partilha de informações estratégicas entre as forças ruandesas, a SAMIM e as forças moçambicanas, resultando em vários incidentes de fogo amigo. A ausência de cooperação eficaz entre estas forças tem suscitado preocupações sobre a eficácia da luta contra o terrorismo na região.

 As tropas ruandesas foram inicialmente mobilizadas nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, locais onde estão situados projectos de gás natural liquefeito (GNL) no valor de 20 mil milhões de dólares, liderados por multinacionais ocidentais como a Total Energies, Exxon Mobil e Eni. Estas empresas são consideradas cruciais para o desenvolvimento económico de Moçambique, mas têm sido alvo de ataques terroristas.

No entanto, o envio das forças ruandesas para essas áreas levantou suspeitas de que a sua presença se destina mais à protecção de activos económicos do que ao cumprimento dos objectivos oficiais da missão. Alegadamente, acordos secretos entre o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o seu homólogo ruandês, Paul Kagamé, teriam sido firmados sem conhecimento público, o que gerou desconfiança e contestação por parte de vários sectores da sociedade moçambicana.

Além disso, o acordo bilateral secreto sobre o envio de tropas ruandesas, conhecido apenas pelos presidentes de Moçambique e Ruanda, levantou críticas por parte dos vigilantes do sector de defesa e segurança nacional, da oposição parlamentar, da imprensa e de organizações da sociedade civil. A falta de transparência em torno deste acordo intensifica as preocupações sobre o verdadeiro propósito da missão ruandesa em Moçambique.

O papel das tropas ruandesas em Cabo Delgado tem sido alvo de escrutínio, particularmente devido à sua participação em actividades de construção de infra-estruturas, como a edificação de um mercado e, recentemente, de uma escola. Essas acções, embora louváveis, geraram controvérsia, pois, segundo várias fontes, estas tarefas deveriam ser da responsabilidade do governo moçambicano. No entanto, o exército ruandês afirma que tais projectos fazem parte da sua estratégia de relações civis-militares.

"Vieram a Mocímboa da Praia para prestar apoio na luta contra o terrorismo, mas, quando começaram a construir infra-estruturas, não ficou claro qual era a verdadeira intenção dessas tropas," revelou uma fonte. Este envolvimento em projectos civis alimenta a discussão sobre o alcance das operações militares ruandesas em Moçambique e a sua influência na política local.

Actualmente, o número de tropas ruandesas em Moçambique aumentou de 1.000 para cerca de 5.000, com a sua presença consolidada em pelo menos cinco distritos de Cabo Delgado: Mocímboa da Praia, Palma, Ancuabe, Macomia e Quissanga. As operações destas tropas cobrem mais de metade dos 17 distritos de Cabo Delgado e estendem-se a partes da província de Nampula.

O Instituto para Estudos de Segurança recomenda que tanto Moçambique como Ruanda revisitem os objectivos da missão ruandesa em Cabo Delgado, garantindo que as tropas estrangeiras apoiem a estratégia antiterrorismo do governo moçambicano sem substituir as forças de segurança nacionais no seu papel principal de garantir a segurança do país. O Instituto alerta ainda que a permanência prolongada das forças ruandesas pode ter implicações a longo prazo para a autoridade do Estado moçambicano sobre o seu território e o seu povo.