Presença militar ruandesa em Moçambique: Instituto para Estudos de Segurança alerta para consequências a longo prazo
O crescimento substancial da presença militar ruandesa em Moçambique nos últimos anos tem suscitado preocupações tanto no país como na região. De acordo com o Instituto para Estudos de Segurança, sediado na África do Sul, o número de tropas ruandesas em Moçambique aumentou drasticamente, passando de 1.000 para cerca de 5.000 em três anos, com as operações militares a expandirem-se para cinco distritos da província de Cabo Delgado.
Segundo um estudo publicado antes de ontem, este aumento de forças data de Julho de 2021, altura em que cerca de 1.000 agentes da Força de Defesa de Ruanda e da Polícia Nacional de Ruanda chegaram à província de Cabo Delgado, uma região gravemente afectada pelo extremismo violento. Desde então, os ataques a civis e à infraestrutura pública aumentaram, levando a uma intervenção militar estrangeira.
Ao mesmo tempo que o destacamento ruandês foi enviado, a Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM) também foi mobilizada para a região, mas para áreas mais distantes dos projectos de gás. Este apoio da SAMIM terminou este ano, e, de acordo com fontes oficiais, havia uma falta de coordenação e partilha de informações estratégicas entre as forças ruandesas, a SAMIM e as forças moçambicanas, resultando em vários incidentes de fogo amigo. A ausência de cooperação eficaz entre estas forças tem suscitado preocupações sobre a eficácia da luta contra o terrorismo na região.
No entanto, o envio das forças ruandesas para essas áreas levantou suspeitas de que a sua presença se destina mais à protecção de activos económicos do que ao cumprimento dos objectivos oficiais da missão. Alegadamente, acordos secretos entre o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o seu homólogo ruandês, Paul Kagamé, teriam sido firmados sem conhecimento público, o que gerou desconfiança e contestação por parte de vários sectores da sociedade moçambicana.
Além disso, o acordo bilateral secreto sobre o envio de tropas ruandesas, conhecido apenas pelos presidentes de Moçambique e Ruanda, levantou críticas por parte dos vigilantes do sector de defesa e segurança nacional, da oposição parlamentar, da imprensa e de organizações da sociedade civil. A falta de transparência em torno deste acordo intensifica as preocupações sobre o verdadeiro propósito da missão ruandesa em Moçambique.
O papel das tropas ruandesas em Cabo Delgado tem sido alvo de escrutínio, particularmente devido à sua participação em actividades de construção de infra-estruturas, como a edificação de um mercado e, recentemente, de uma escola. Essas acções, embora louváveis, geraram controvérsia, pois, segundo várias fontes, estas tarefas deveriam ser da responsabilidade do governo moçambicano. No entanto, o exército ruandês afirma que tais projectos fazem parte da sua estratégia de relações civis-militares.
"Vieram a Mocímboa da Praia para prestar apoio na luta contra o terrorismo, mas, quando começaram a construir infra-estruturas, não ficou claro qual era a verdadeira intenção dessas tropas," revelou uma fonte. Este envolvimento em projectos civis alimenta a discussão sobre o alcance das operações militares ruandesas em Moçambique e a sua influência na política local.
Actualmente, o número de tropas ruandesas em Moçambique aumentou de 1.000 para cerca de 5.000, com a sua presença consolidada em pelo menos cinco distritos de Cabo Delgado: Mocímboa da Praia, Palma, Ancuabe, Macomia e Quissanga. As operações destas tropas cobrem mais de metade dos 17 distritos de Cabo Delgado e estendem-se a partes da província de Nampula.
O Instituto para Estudos de Segurança recomenda que tanto Moçambique como Ruanda revisitem os objectivos da missão ruandesa em Cabo Delgado, garantindo que as tropas estrangeiras apoiem a estratégia antiterrorismo do governo moçambicano sem substituir as forças de segurança nacionais no seu papel principal de garantir a segurança do país. O Instituto alerta ainda que a permanência prolongada das forças ruandesas pode ter implicações a longo prazo para a autoridade do Estado moçambicano sobre o seu território e o seu povo.