Boers rejeitam oferta de refúgio de Trump e reafirmam compromisso com a África do Sul
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou recentemente uma ordem executiva que oferece aos sul-africanos brancos, sobretudo aos Afrikaners (Boers), a possibilidade de se fixarem nos EUA na qualidade de refugiados. Trump justificou a medida alegando discriminação racial e insegurança, associadas a ataques violentos e a uma nova lei de expropriação de terras em vigor na África do Sul. Todavia, diversas organizações que representam a comunidade Afrikaner rejeitaram a oferta, reiterando a sua intenção de permanecer no país.

Dirk Hermann, presidente executivo do sindicato Afrikaner Solidarity, que diz representar cerca de 2 milhões de Afrikaners, foi taxativo: “Os nossos membros trabalham aqui, querem ficar aqui e vão ficar aqui. Estamos empenhados em construir um futuro aqui. Não vamos a lugar nenhum.” Por seu lado, Kallie Kriel, CEO do grupo de pressão Afrikaner AfriForum, acrescentou que “não há qualquer intenção de se mudarem para outro lugar.”
Em resposta às declarações de Trump, o governo sul-africano negou a existência de ataques sistemáticos contra agricultores brancos, afirmando que o novo regime de expropriação de terras se destina a corrigir disparidades históricas sem discriminar grupos étnicos. As autoridades criticaram as declarações de Trump e caracterizaram a sua leitura da lei como baseada em “desinformação e distorções.”
A ordem executiva de Trump prevê ainda o corte de toda a ajuda financeira dos EUA à África do Sul, justificando a decisão com supostas violações de direitos humanos contra Afrikaners. Tal medida pode ter consequências consideráveis, nomeadamente no financiamento de programas de saúde e no combate ao HIV/SIDA, área em que os EUA têm sido um contribuinte significativo.
O Ministério das Relações Exteriores da África do Sul contestou a decisão, apontando que a ordem de Trump carece de rigor factual e ignora o pano de fundo histórico do colonialismo e do apartheid. Para além disso, o ministério considera irónico propor status de refugiado a um grupo ainda detentor de privilégios económicos, enquanto pessoas noutras regiões do mundo, em condições de real vulnerabilidade, são recusadas e deportadas pelos EUA.
A recusa dos Afrikaners em aceitar a oferta de Trump coloca em evidência questões delicadas relativas à posse de terras e às disparidades económicas no período pós-apartheid. Críticos apontam que a ênfase do ex-Presidente norte-americano está deslocada, descurando os desafios socioeconómicos alargados com que a África do Sul se confronta e a necessidade de reparar injustiças históricas sofridas pela maioria negra. O episódio revela ainda as tensões persistentes em torno da reforma agrária no país, assim como as diferentes interpretações internacionais sobre as políticas internas sul-africanas.