Moçambique obrigado a pagar mais de mil milhões de euros só em divida interna até 2026
A agência de notação financeira Standard & Poor’s alertou hoje que Moçambique terá de enfrentar pesados pagamentos de dívida interna nos próximos anos, num valor que ronda os mil milhões de euros, colocando significativos desafios económicos ao país. A previsão insere-se num contexto de fragilidade económica agravado pelo escândalo das dívidas ocultas.
O aumento da dívida interna de Moçambique resultou do afastamento do país dos mercados financeiros internacionais após a descoberta de empréstimos contraídos sem o conhecimento do Parlamento e dos doadores internacionais, obrigando o Governo a recorrer ao endividamento interno para financiar as despesas públicas.
Além dos encargos com a dívida interna, o país terá de lidar com o aumento dos juros da dívida externa, em particular das Eurobonds. Estes títulos, cuja taxa de juro duplicou a partir deste ano, representam um encargo crescente para o Estado moçambicano. O cupão das Eurobonds com maturidade em 2031, que anteriormente era de 5%, subiu para 9% este ano, aumentando os pagamentos anuais de 47 milhões de dólares (44,1 milhões de euros) para 81 milhões de dólares (76 milhões de euros) até 2028. Entre 2028 e 2031, os pagamentos anuais subirão para 225 milhões de dólares (211 milhões de euros), segundo os analistas da S&P.
Leon Bezuidenhout, numa entrevista à Bloomberg, referiu que o sistema financeiro local ainda tem capacidade para absorver novas emissões de dívida, embora os juros estejam extremamente altos. Bezuidenhout também advertiu que esta situação vai requerer compromissos políticos por parte do governo para gerir os desafios económicos.
Apesar destes desafios, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento económico de cerca de 5% para Moçambique este ano. No entanto, o peso da dívida pública, que deverá atingir 97,5% do PIB, limita a capacidade do executivo para se endividar ainda mais, devido ao programa de ajustamento financeiro em curso, que exige que 20% das receitas fiscais sejam destinadas ao serviço da dívida.
O elevado nível de endividamento público continua a ser uma das maiores preocupações económicas para Moçambique, que permanece com o seu rating em CCC, o que significa que o país está em território de não investimento, também conhecido como 'lixo'.