Nyusi reata relações com Tanzânia após morte de Magufuli
O ex-presidente tanzaniano, John Magufuli, que faleceu em Março de 2021, mantinha uma relação tensa com o governo de Moçambique, ao ponto de boicotar as cerimónias de investidura do presidente Filipe Nyusi em 2019, quando foi reeleito para o seu segundo mandato.
A animosidade de Magufuli com Moçambique surgiu devido aos investimentos bilionários no sector do gás em Cabo Delgado, uma região de fronteira com a Tanzânia.
A morte de Magufuli no auge da pandemia de Covid-19 e a ascensão de Samia Suluhu Hassan, a sua sucessora, abriram uma janela de oportunidade para o estadista moçambicano reaproximar-se da Tanzânia, relançando e estreitando o relacionamento bilateral entre os dois estados e povos que estavam "desavindos".
Após a morte de John Magufuli, Moçambique e Tanzânia iniciaram uma fase de maior abertura, não só na dimensão de defesa e segurança, mas também nas instituições de justiça.
Durante a vida de Magufuli, foi perceptível que ele não colaborava no combate à insurgência em Cabo Delgado, apesar de ser presidente da ‘Troika’ do órgão de Política, Defesa e Segurança da SADC, o que o obrigava a passar a mensagem de reforço na coordenação do combate aos grupos armados na província de Cabo Delgado.
Desde 2022, os ventos de mudança sopraram tanto de Maputo como de Dar-es-Salaam. Em 2022, Samia Suluhu Hassan realizou uma visita de Estado a Moçambique, com o objectivo de melhorar as relações diplomáticas entre os dois países.
Em Setembro de 2023, Moçambique e Tanzânia assinaram dois acordos para reforçar a cooperação bilateral nos sectores da paz e segurança. Esses acordos visavam responder aos desafios ligados à evacuação de pessoas deslocadas vítimas de terrorismo que procuravam asilo na Tanzânia, mas que não eram recebidas devido a contendas políticas do passado.
Esta semana, Nyusi concluiu uma visita de trabalho de quatro dias à Tanzânia, onde os governos equacionam introduzir serviços de cabotagem marítima como parte do reforço da cooperação bilateral.
Esta pretensão representa uma nova fase nas relações, especialmente nos campos político e económico, prejudicados anteriormente pelas disputas em torno dos recursos naturais na bacia do Rovuma, em Cabo Delgado.
Moçambique e Tanzânia irão lançar uma iniciativa que poderá ajudar a catapultar as pequenas e médias empresas (PMEs) e a economia de ambos os países.
O presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou que brevemente será organizado um Fórum de Negócios entre os dois países para aprofundar e perspectivar os ganhos comerciais que o movimento marítimo nos portos trará para os cidadãos.
“Uma das coisas que se pode pensar e que pode imediatamente começar é a cabotagem entre os portos de Dar-es-Salaam, de Mtwara [na Tanzânia], e os portos de Nacala e Pemba, porque este movimento vai trazer alguma actividade para os pequenos e médios empresários”, afirmou Nyusi.
Durante uma conferência de imprensa conjunta em Dar-es-Salaam, Nyusi e Hassan manifestaram preocupação com a diminuição significativa do volume de comércio entre os dois países vizinhos. O comércio bilateral caiu drasticamente de 55,8 milhões de dólares, em 2022, para 20,1 milhões de dólares, em 2023.
Na ocasião, os dois presidentes concordaram em investigar as causas do declínio do volume de comércio, incluindo possíveis problemas associados à segurança.
Esta nova fase de cooperação entre Moçambique e Tanzânia não só promete melhorar a segurança e estabilidade na região de Cabo Delgado, mas também revitalizar a economia de ambos os países, beneficiando directamente as suas populações.