Os "mistérios dos ataques terroristas" em Cabo Delgado
Na senda dos "mistérios dos ataques terroristas" em Cabo Delgado, recentemente, o Comandante-Geral da PRM, Bernardino Rafael, apresentou em público, através da imprensa, Agostinho Abudo, um dos agentes envolvidos na "operação de resgate das freiras católicas raptadas pelos terroristas"
Quando entre os dias 04 e 05 de outubro de 2017, os terroristas atacaram a vila municipal de Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado, muitos podem ter pensado que tratava-se de um acto simples criminosos, até porque foi esta narrativa que as autoridades policiais, militares e governamentais venderam por alguns anos, até que Mocímboa da Praia, Quissanga, Muidumbe, Nangade, Macomia e Palma foram assaltados por membros do grupo e a dinâmica da guerra contra o terrorismo também mudou de âmbito.
Portanto, dados colhidos pela nossa reportagem nos últimos anos, indicam que nos primórdios dos ataques terroristas existiram vários movimentos desusados, como a convocação de alguns desmobilizados com grande experiência na condução de veículos pesados. A estratégia passava pela movimentação de cargas militares de um determinado perímetro para o outro, sem que o motorista saiba o que realmente transportava, conforme garantiu uma fonte militar que esteve numa das operações.
De acordo com a fonte, os pagamentos eram bastante altos, facto que permitiu que muitos ex-militares recrutados tenham conseguido reorganizar financeiramente suas vidas. De 2017 até finais de março de 2021, estes movimentos eram constantes nas matas de Cabo Delgado, razão pela qual, certos camiões não eram incendiados, mas sim, desapareciam pela mata estranhamente. A fonte revelou que certas vezes, "tu poderias conduzir o veículo até uma determinada residência de um responsável militar, policial ou político e seres dito que sua missão terminou por ali."
Segundo apuramos, estas movimentações serviam para colocar no corredor da guerra e maior parte deles, ocupado pelos terroristas, mantimentos e logísticas militares. Razão pela qual, alguns soldados que acompanharam grandes generais e coronéis a certas zonas sob controlo do inimigo viriam a ser mandados apanhar lenha tempos depois.
Entre as verdades omitidas desde que os ataques terroristas em Cabo Delgado eclodiram, está quem definitivamente esteve por detrás do assalto aos bancos em março de 2021, quando mais de 300 terroristas atacaram Palma. Dados na posse da nossa reportagem contradizem a versão que circulou na altura dos factos, de que teriam sido elementos das Forças Armadas e Defesa de Moçambique (FADM) a assaltarem as caixas de ATM. Fontes fidedignas e que estiveram na altura do sucedido, garantem hoje que foram membros da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), uma das especialidades policiais de Moçambique que estiveram por detrás do "triste episódio".
Entretanto, devido à tenebrosa realidade no Teatro Operacional Norte (TON), os militares preferiram manter-se calados em relação à respectiva matéria, por acharem não ser a altura certa para corrigir algumas inverdades que infelizmente alimentaram grandes debates e versões da guerra em Cabo Delgado.
Sobre os valores monetários saqueados nos bancos, nunca mais ninguém quis falar em relação ao assunto, inclusive os próprios bancos. Outrossim, hoje quando se regista uma mudança do cenário no TON, certos grupos humanitários e figuras influentes procuram colocar as partes a negociarem, razão pela qual, a ousadia do grupo terrorista aumentou, onde passaram a considerarem-se "autoridades em certas localidades e postos administrativos dos distritos de Macomia e Muidumbe" – chegando inclusive a realizar vistorias de viaturas ao longo do troço como se fossem militares ou policiais.
Curiosamente, estas situações se verificam numa altura em que vem crescendo o número de cidadãos que regressam às suas zonas de origem, fazendo com que, o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) em Cabo Delgado e o Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) tenham enviado vários quadros para os locais acima citados, com o objectivo de investigarem como tem sido a relação entre os terroristas e a população, uma vez que estes chegam ao ponto de realizar compras em alguns pontos comerciais.
Na senda dos "mistérios dos ataques terroristas" em Cabo Delgado, recentemente, o Comandante-Geral da PRM, Bernardino Rafael, apresentou em público, através da imprensa, Agostinho Abudo, um dos agentes envolvidos na "operação de resgate das freiras católicas raptadas pelos terroristas", no entanto, de acordo com fontes próximas as vitimas, indicam que apesar das irmãs terem estado numa das bases dos terroristas, o facto é que as mesmas nunca foram submetidas a "tortura física ou qualquer outro de tipo de mal", pelo contrário, conforme revelou-nos a fonte, os "líderes terroristas elogiavam frequentemente, o trabalho humanitário realizado por alguns teólogos e activistas sociais", uma das razões da fúria dos analistas ou comentadores pró-governo há algum tempo atrás contra o trabalho até então do Bispo de Pemba, Dom Luiz Fernando Lisboa, que tempos depois viria a ser promovido e transferido para a sua terra natal, Brasil, principalmente devido as suas constantes aparições públicas e apelo constante ao mundo para que a situação em Cabo Delgado não fosse esquecida.
A situação e o posicionamento militar em Cabo Delgado, já levou que os países parceiros e que apoiam Moçambique no combate aos terroristas, muda-se de rumo, fazendo com que alguns prefiram actuar mais sozinhos que misturados com elementos do nosso exército, uma realidade que já levou um dos comandantes militares do exército ruandês a anunciar em frente ao governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, se algumas pessoas continuassem a actuar e dando informações imprecisas ou de certos factos locais, teriam um fim breve, uma vez que eles estavam de olho em tudo no distrito de Mocímboa da Praia.
Em relação aos mistérios da guerra em Cabo Delgado, recentemente o pesquisador norte-americano, Alex Perry, fez umas revelações tenebrosas, que infelizmente até ao momento, nenhuma autoridade, seja ela policial, militar ou política veio ao público confirmar ou desmentir, levando com que, o actual Bispo de Pemba, Dom António Juliasse Sandramo, peça que se declare luto nacional, devido aos assustadores números de mortes, revelados pelo pesquisador norte-americano. (O. Omar – parte I)