Tropas sul-africanas podem retornar a Cabo Delgado para proteger seus interesses na HCB e Sasol

O novo Ministro da Defesa da África do Sul, Angie Motshekga, encontra-se sob intensa pressão para intervir de forma imediata no combate ao extremismo islâmico na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.

Agosto 12, 2024 - 10:18
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Tropas sul-africanas podem retornar a Cabo Delgado para proteger seus interesses na HCB e Sasol

O receio crescente é que a expansão do terrorismo para o centro e sul do país possa colocar em risco infraestruturas estratégicas, como a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), em Tete, e os poços de gás de Temane, em Inhambane, que são vitais para o abastecimento energético da África do Sul.

A Hidroeléctrica de Cahora Bassa, responsável por uma produção de 1.500 MW de electricidade, dos quais uma parte significativa é destinada à África do Sul, está sob uma ameaça real. De igual modo, os poços de gás de Temane, em Inhambane, explorados pela Sasol, são considerados de alto risco para um eventual ataque da insurgência.

A África do Sul, como principal destino do gás extraído de Inhambane, vê a sua segurança energética ameaçada, especialmente numa altura em que o transporte do gás dos campos de Rovuma também está em perigo.

Helmoed Heitman, um influente autor e analista sul-africano em assuntos militares, e membro da reserva do exército desde 1970, recentemente lançou um apelo contundente ao governo sul-africano.

Helmoed, que possui um histórico controverso devido ao seu envolvimento com o exército do apartheid e à sua defesa de métodos repressivos de contra-insurgência, alertou para a necessidade urgente de intervir em Cabo Delgado.

“É imperativo abordar a insurgência em Cabo Delgado imediatamente. Se esta situação for deixada a proliferar, pode vir a ameaçar não só Cahora Bassa mas também, caso se alastre mais para o sul, o campo de gás em Temane,” afirmou Helmoed Heitman.

Segundo este analista, a prioridade do novo governo sul-africano deve ser o combate à insurgência em Moçambique, utilizando uma força militar mais robusta e o recurso a meios aéreos.

Helmoed enfatizou que, caso o governo moçambicano recuse o uso de meios aéreos, a África do Sul deve considerar outras formas de proteger a HCB e, possivelmente, reforçar as restrições fronteiriças para impedir a entrada de terroristas no seu território.

“Se, por quaisquer razões, o governo moçambicano não permitir isso, uma alternativa para proteger Cahora Bassa deve ser encontrada, e a fronteira com Moçambique precisa de ser revista com um olhar atento à segurança futura,” sublinhou.

Ao mesmo tempo, Helmoed advertiu que o Ministro da Defesa da África do Sul terá de esclarecer ao Presidente e ao Gabinete que a actual política de defesa falhou e que é impossível implementá-la com o orçamento actual.

A necessidade de definir o papel de segurança que a África do Sul pretende desempenhar, seja ele regional, sub-regional ou apenas local, é crítica para determinar as capacidades que a Força de Defesa terá de manter, recuperar ou desenvolver.

A situação de Cabo Delgado, segundo a análise de Helmoed, exige uma acção imediata, mas o contexto difícil em que opera o novo Ministério da Defesa da África do Sul torna a tomada de decisões ainda mais crítica. Helmoed também criticou a missão sul-africana na República Democrática do Congo (RDC), onde as forças do país enfrentam o grupo M23.

Ele argumentou que a missão foi mal concebida, com uma força relativamente pequena e inadequada para a escala da operação, que envolve o combate a múltiplos grupos armados em três províncias e a protecção de civis e infra-estruturas.

“Sem apoio aéreo, as tropas estão gravemente subequipadas para a missão, e a falta de uma capacidade de contra-rocket, artilharia e morteiro (C-RAM) torna as suas bases e apoio logístico vulneráveis,” analisou.

Para que a África do Sul tenha sucesso na RDC, Helmoed sugere duas opções: expandir a força destacada e fornecer as capacidades necessárias para conter o M23, ou declarar a missão concluída e retirar-se, aceitando o fracasso da operação.

“Um requisito extremamente crítico e urgente será obter sistemas de contra-drones para a força destacada na RDC, apoiados por sistemas de eliminação. Esse papel pode ser preenchido pelos canhões duplos de 35 mm da artilharia antiaérea, como o Gepard na Ucrânia, ou mesmo algo tão básico quanto metralhadoras de 12,7 mm ou 14,5 mm com miras térmicas. Nada é perfeito, mas é melhor do que nada,” afirmou.

Vale lembrar que as tropas sul-africanas começaram a retirar-se de Moçambique após uma missão antiterrorismo em Cabo Delgado.

Em Março, o Major-general sul-africano Patrick Njabulo Dube visitou a Base Operacional Avançada da África do Sul, em Macomia, para uma inspecção do estado de prontidão de retirada da equipa de combate Charlie, elogiando o desempenho durante a missão.

O contingente sul-africano foi o segundo grupo a retirar-se da missão em Cabo Delgado, numa operação que teve início a 7 de Abril.

Actualmente, a insurgência em Cabo Delgado está a ser combatida exclusivamente pelas Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e pelas tropas ruandesas, o que reforça a urgência de uma possível intervenção renovada por parte da África do Sul para proteger os seus interesses estratégicos na região.