UE aprova mais 20 milhões de Euros para forças ruandesas em Cabo Delgado
A União Europeia (UE) anunciou hoje, em Bruxelas, um novo apoio financeiro de 20 milhões de euros às Forças de Defesa do Ruanda (RDF), destacadas em Cabo Delgado, Moçambique. O financiamento, proveniente do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (EPF), destina-se a reforçar a capacidade das tropas ruandesas no combate ao terrorismo que afecta a região desde 2017.
Este montante adicional complementa os 20 milhões de euros concedidos em Dezembro de 2022 para sustentar o destacamento das forças ruandesas. A UE considera a intervenção do Ruanda, iniciada em Julho de 2021 a pedido do governo moçambicano, essencial para conter a insurgência ligada ao Estado Islâmico, facilitar o retorno de deslocados e garantir a segurança de actividades económicas críticas na região.
A ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Verónica Macamo, está em Bruxelas para acompanhar o anúncio e deve reforçar, em nome do governo moçambicano, o compromisso de cooperação com os parceiros internacionais.
Contudo, este apoio europeu não está isento de polémica. Críticos apontam para um suposto “Pacto de Minerais com Kigali”, um alegado acordo secreto entre a UE e o Ruanda, que visa assegurar o fornecimento de minerais críticos para as indústrias europeias, incluindo automóveis eléctricos e microchips. Este pacto tem sido associado ao agravamento de conflitos na República Democrática do Congo (RDC) e levanta suspeitas sobre a presença ruandesa em Cabo Delgado.
As forças ruandesas são frequentemente vistas como uma extensão dos interesses europeus em África. Analistas sugerem que a escolha do Ruanda como aliado evita a percepção negativa de uma intervenção directa de países como a França, cujas empresas, como a TotalEnergies, possuem concessões significativas nas reservas de gás da bacia do Rovuma, em Cabo Delgado.
Desde 2017, o terrorismo em Cabo Delgado tem coincidido com a descoberta de recursos valiosos na região, intensificando as suspeitas sobre a influência estrangeira. Em Junho deste ano, a Bloomberg avançou que a UE considerava disponibilizar até 40 milhões de euros para apoiar operações anti-terrorismo do Ruanda em Moçambique. A comissária europeia para Relações Internacionais, Jutta Urpilainen, confirmou então que um pedido de financiamento adicional estava em análise.
Enquanto a UE reforça o apoio à estabilização de Cabo Delgado, persistem questionamentos sobre os interesses subjacentes, com críticas a relacionar as operações ruandesas com a protecção de recursos estratégicos, tanto em Moçambique quanto na região dos Grandes Lagos.