CAD não “cutuca” Frelimo nem Renamo, mas representa séria ameaça ao MDM

Cientistas políticos, sociedade civil e análises documentais, convergem na ideia de que a aprovação da candidatura da Coligação Aliança Democrática (CAD) e o seu candidato presidencial, Venâncio Mondlane, para os próximos pleitos eleitorais, está longe de constituir ameaça à Frelimo e Renamo, dada a consolidação das bases do seu eleitorado ao longo do tempo.

Junho 25, 2024 - 14:15
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CAD não “cutuca” Frelimo nem Renamo, mas representa séria ameaça ao MDM

Mas, em contrapartida, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), dada a sua condição actual, marcada por desafios internos, encontra-se numa zona de vulnerabilidade ao furacão CAD, podendo ser relegado nas eleições de 9 de Outubro para uma posição desconfortável do xadrez político.

Das buscas feitas pela Torre.news junto de diferentes fontes, o denominador comum é que, apesar do ímpeto e irreverência da CAD e seu candidato presidencial, é pouco crível que consigam desalojar a Frelimo do poder e a Renamo como segundo mais votada, sendo que, o mais provável é que empurre o MDM para uma posição de risco político.

Para Délcio Alfazema, analista político vinculado ao Instituto para Democracia Multipartidária (IMD), não há dúvidas de que, das três forças políticas que constituem bancadas parlamentares, pelo menos uma estará numa posição de risco se a CAD conseguir fazer passar a sua candidatura a nível nacional.

Para Alfazema, o partido que está numa situação de risco, deverá ser o que tiver menor ímpeto, numa clara alusão ao MDM, ressalvando, no entanto, que a própria CAD deverá ultrapassar os desafios de organização interna para conseguir o engajamento do eleitorado.

“MDM está numa tangente, está numa posição de risco, tem bastião que é a cidade da Beira, mas poderá ser pressionada pela CAD” avançou.

O cientista Político, Helder Cuna, realça a maturidade política e pujança da Frelimo, como um factor de desequilíbrio na luta pelo poder em Moçambique, apesar de algumas desinteligências internas próprias, de um partido daquela dimensão.

Aponta a Renamo, mesmo com as sucessivas crises de liderança, como o partido da oposição que está pole position para consolidar a sua posição de segunda principal força política do país.

Entende que, o facto dos órgãos de administração eleitoral serem constituídos por estas duas formações políticas isso de per si é uma vantagem comparativa.

“A luta será pela terceira posição e é aí onde o MDM aparece como vulnerável, dada a sua situação actual de uma actuação marcadamente fragilizada, tanto pela morte do seu mentor, David Simango, como pela gestão pouco criteriosa dos quadros internos”, disse.

De acordo com Sérgio Chichava do IESE, num documento que analisa o desempenho do MDM nos últimos pleitos eleitorais, sublinha que, este partido tem vindo a enfrentar sucessivas crises desde a sua criação e uma das primeiras e mais visíveis crises deu-se em 2011 quando Ismael Mussá, na altura secretário-geral, alegando gestão autoritária de Daviz Simango e a captura do partido pela sua família, demitiu-se do cargo.

Para a fonte, a crise no MDM, viria a agudizar-se em Nampula, quando em 2016, o então presidente do Município local, Mamudo Amurane, entrou em rota de colisão com Daviz Simango, a quem acusava de gestão ditatorial do partido e de tentativas de “linchagem política”

“No meio desta tensão, Amurane foi assassinado em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas e até hoje o partido segue uma linha de corrosão política”, salienta.

Apesar do Venâncio Mondlane ter assegurado a Torre.news que a sua luta e da sua coligação passa pela conquista do poder, só a facto do seu nome estar alistado como número um (1) pela CAD a Assembleia da República pela cidade de Maputo, por si só revela que está cauteloso e admite que as reais hipóteses podem estar na no parlamento moçambicano.

Refira-se que, a permanente desconfiança política em Moçambique que favoreceu a criação de órgãos de administração eleitoral com base numa estrutura partidária assente na proporção da representação, ainda revela várias debilidades.

A percepção que existe é que, tem sido o factor que dificulta a realização de eleições efectivamente “livres, justas e transparentes”, conjugado com a constante revisão da legislação eleitoral sempre à boca das urnas.

Esse cenário tão evidente obrigou o Conselho Constitucional (CC) tribunal especializado em matéria eleitoral, nos seus acórdãos deliberativos, a aconselhar o poder político para a necessidade da profissionalização dos órgãos como forma de evitar conflitos e instabilidade.