DÍVIDAS OCULTAS: Credit Suisse aceita pagar 22,6 milhões USD aos detentores de títulos da EMATUM

A subsidiária europeia do Credit Suisse Group AG, que se declarou culpada de conspirar para defraudar os investidores em títulos moçambicanos, concorda pagar 22,6 milhões de dólares em restituição.

Julho 23, 2022 - 18:51
Julho 25, 2022 - 15:28
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Na audiência de quarta-feira (20), os procuradores pediram ao juiz distrital norte-americano, William Kuntz, para ordenar o Credit Suisse a pagar restituição a 18 investidores. Espera-se que o Juiz Kuntz anuncie a sua decisão esta sexta-feira (22).

O banco Credit Suisse admite que parte considerável do dinheiro supostamente destinado a criar uma empresa moçambicana de pesca de atum (EMATUM) foi desviado para o pagamento de subornos e, por isso, aceita indemnizar alguns investidores americanos que compraram os títulos moçambicanos.


A fraude foi orquestrada no período compreendido entre 2012 e 2013, por gestores do Credit Suisse, em parceria com a Privinvest, um grupo com sede em Abu Dhabi, e gestores moçambicanos, incluindo o então ministro das Finanças, Manuel Chang.


O esquema envolve três empresas ligadas à segurança, nomeadamente a EMATUM, ProIndicus e MAM (Mozambique Asset Management) - que deveriam garantir a protecção costeira e reavivar a pesca do atum na costa moçambicana.


As três empresas obtiveram empréstimos de mais de dois mil milhões de dólares americanos do Credit Suisse e do banco russo, VTB. Os empréstimos só foram concedidos porque o governo moçambicano na altura, chefiado pelo então Presidente Armando Guebuza, emitiu garantias de empréstimo assinadas por Chang.

Do total, o maior empréstimo, no valor de 850 milhões de dólares, foi concedido à EMATUM e assumiu a forma de títulos emitidos no mercado europeu. Um grupo de investidores americanos engrossa a lista das pessoas que compraram os títulos, razão pela qual os procuradores dos Estados Unidos se interessaram particularmente pelo caso.


O que os investidores não sabiam era que os três gestores do Credit Suisse que negociaram o empréstimo da EMATUM (Andew Pearse, Detelina Subeva e Surjan Singh) tinham todos recebido subornos da Privinvest. Os mesmos confessaram ter recebido dinheiro de suborno perante um tribunal de Nova Iorque, mas ainda não foram condenados pelo seu papel no escândalo.


Uma auditoria independente a Proindicus, EMATUM e MAM apurou que a sobre facturação ascendeu a mais de 700 milhões de dólares.


Isto é, forneceu à Privinvest dinheiro mais do que suficiente para pagar aos gestores do Credit Suisse e aos funcionários moçambicanos envolvidos no negócio corrupto.

Nenhuma das três empresas era viável. Por isso, todas foram à falência e estão agora na fase de liquidação. O que começou como empréstimos ocultos tornou-se agora em dívidas ocultas, uma vez que os credores exigem o seu dinheiro de volta do Estado moçambicano.


No entanto, a subsidiária do Credit Suisse, Credit Suisse Securities Europe, declarou-se culpada de acusações de conspiração no ano passado e chegou a um acordo para pagamento de 475 milhões de dólares com as autoridades financeiras americanas e britânicas.


Um porta-voz do Credit Suisse recusou-se a comentar o caso.