EDM luta para sobreviver: Programa “Energia para Todos” sufoca finanças

A Electricidade de Moçambique (EDM), empresa pública responsável pela geração, transporte, distribuição e comercialização de energia eléctrica, tem operado no vermelho nos últimos cinco anos. A principal razão para esta situação é a falta de observância rigorosa das metodologias de gestão baseadas no risco empresarial, além da interferência política nos processos de tomada de decisão.

Junho 18, 2024 - 17:33
Junho 19, 2024 - 15:04
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EDM luta para sobreviver: Programa “Energia para Todos” sufoca finanças
EDM

Um exemplo claro desta interferência é o enfoque dado pela EDM ao programa governamental “Energia para Todos”, imposto pelo Banco Mundial. Este programa tem onerado significativamente as finanças da empresa, embora cumpra as metas estabelecidas pelo governo e por organizações internacionais. Contudo, a imposição deste programa não permite que as ameaças e oportunidades sejam geridas da melhor forma para atender aos objectivos estratégicos e operacionais da empresa de maneira sustentável.

No seu plano de negócios 2020-2024, a EDM reconhece que a empresa, que engloba todas as actividades da cadeia de valor do sector energético, enfrenta dificuldades devido ao quadro de acesso universal estabelecido pelo governo através da Estratégia Nacional de Electrificação (ENE). Esta estratégia obriga a EDM a operar tanto nas vertentes comercial quanto social, sendo esta última a que mais pesa nas contas da empresa.

De acordo com o plano, prevê-se que os resultados líquidos piorem em cerca de 86% até 2024, passando de 2,132 mil milhões de meticais negativos em 2019 (ano base) para 3,974 mil milhões de meticais negativos em 2024. Este cenário reflete a necessidade urgente de estabelecer objectivos e metas estratégicas, além de um plano de implementação que inclua as fontes de financiamento necessárias para reverter a situação crítica.

“Há necessidade de produzir resultados financeiros e cenários de negócios que permitam à EDM reverter os seus resultados líquidos negativos e alcançar o objectivo final de se tornar uma referência nacional e regional de excelência”, destaca o plano de negócios da EDM.

O documento salienta que o desempenho financeiro histórico da EDM tem sido negativo, principalmente devido à prática de tarifas baixas para a colocação de energia, que não cobrem os custos de fornecimento, operacionais e financeiros. Este cenário é reflexo directo dos programas “Energia para Todos” e “Acesso Universal” que a empresa tem executado.

Além disso, os elevados níveis de endividamento da empresa contribuem para o seu cenário financeiro caótico, com o serviço da dívida a representar um fardo significativo na tesouraria da EDM. “A EDM precisa reverter esta situação e tornar-se uma empresa comercialmente bem gerida e financeiramente sustentável”, frisa o plano.

Numa aparição pública recente, o responsável da Direcção Comercial da EDM, Belmiro Óscar, revelou que a empresa tem enfrentado desafios para suprir um consumo de mais de 1.080 MW na hora de ponta, um aumento de 50% no número de consumidores nos últimos três anos. Segundo Óscar, no passado a EDM fornecia 500 MW na hora de ponta, demanda que era suprida pela energia fornecida pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) a um custo acessível. Contudo, actualmente, a demanda atinge 1.080 MW, obrigando a empresa a comprar energia de fornecedores privados a preços elevados.

“A energia bonificada da HCB cobre apenas metade da nossa demanda actual na hora de ponta, sendo necessário comprar o restante a fornecedores privados, que cobram preços muito mais altos. Precisamos encontrar formas de conter os custos e garantir a sustentabilidade da empresa, enquanto cumprimos a agenda de electrificação universal até 2030”, disse Óscar.

A agenda de electrificação do país tem um custo elevado, mas a EDM está comprometida a cumpri-la, apesar dos desafios para a sustentabilidade do negócio. Isso força a empresa a reestruturar o seu modelo de negócio, identificando ineficiências para superar as dificuldades.

“Não podemos fugir dessa responsabilidade. É essa a nossa agenda, temos que electrificar o país”, enfatizou Óscar. Ele destacou a necessidade de encontrar um modelo adequado para tornar o negócio de energia sustentável, ressaltando que “o modelo de negócio será sustentável se aplicarmos a gestão adequada”.

A sustentabilidade da EDM pressupõe que as diversas actividades da empresa — geração, transporte, distribuição e comercialização de energia — sejam financeiramente viáveis, tanto individualmente quanto em conjunto.