Exploração de gás em Moçambique sofre novo adiamento e pressiona mercado global

A decisão da ExxonMobil de adiar para 2026 a decisão final de investimento no projecto Rovuma LNG, inicialmente prevista para o final de 2025, está a levantar preocupações sobre o impacto destes atrasos na crise energética global. A empresa justificou o adiamento com a necessidade de ultrapassar obstáculos operacionais na província de Cabo Delgado, uma região com reservas significativas de gás natural liquefeito (GNL), afectada por condições de “força maior”.

Novembro 11, 2024 - 19:36
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Fontes como a Reuters e a Energy Connects apontam que esses atrasos ocorrem num momento em que o fornecimento de GNL é essencial para equilibrar a procura global. A falta de novas fontes de gás prontamente disponíveis coloca pressão nos mercados internacionais, num contexto em que a procura de GNL continua a crescer devido à transição energética e ao aumento de utilizadores, especialmente na Ásia.

Analistas indicam que os adiamentos nos projectos de GNL, desde os EUA a Moçambique, significam um alívio limitado para os preços elevados de combustível. De acordo com a Energy Connects, “investimentos bilionários que visavam criar um excesso de oferta de GNL até 2025 foram adiados”, e enquanto alguns países como a Alemanha enfrentam o segundo trimestre consecutivo sem crescimento económico, as temperaturas mais frias previstas para o Inverno europeu podem aumentar a concorrência com a Ásia pelo GNL, pressionando os preços e a disponibilidade para países menos competitivos.

Florence Schmit, estratega de energia do Rabobank, alerta que qualquer incremento de oferta no segundo semestre de 2025 poderá ser insuficiente para acompanhar o aumento da procura, que inclui novos importadores como o Egipto. Schmit sublinha que projectos de liquefacção em Moçambique, EUA e México estão atrasados, e sanções ocidentais sobre a Rússia dificultam o avanço do Arctic LNG. O aumento da procura global de GNL, segundo a especialista, é outro factor que mantém a volatilidade dos preços, apesar de uma queda em relação aos picos de 2022.

Em Moçambique, a ExxonMobil declarou que, apesar dos desafios, tem feito avanços importantes no projecto Rovuma LNG, mantendo uma colaboração estreita com o governo para garantir um ambiente estável e seguro. A produção de LNG na Área 4, que é partilhada com a italiana Eni, poderá iniciar-se em 2030, caso a decisão de investimento seja positiva em 2026. A parceria com a Eni, que já explora GNL no projecto Coral Sul FLNG, visa colocar Moçambique entre os grandes exportadores de GNL, com uma capacidade de produção projectada de 18 milhões de toneladas anuais.

Cristian Signoretto, vice-director de operações da Eni, destacou o papel crítico do GNL no mercado global de commodities, afirmando que o sucesso dos projectos de GNL flutuante em Moçambique e no Congo exemplifica a estratégia da Eni de priorizar o gás natural, com a meta de produzir 90% do seu portfólio de hidrocarbonetos em gás até 2050.