Gás de Moçambique enche cofres da Eni, mas dividendos para Moçambique permanecem um mistério
A Eni SpA, gigante petroquímica italiana, anunciou um lucro no segundo trimestre de 2024 superior ao previsto, impulsionado principalmente pelo forte desempenho no seu negócio upstream. Um dos factores-chave para os resultados foi a plataforma flutuante de gás natural liquefeito (FLNG), Coral Sul, localizada na Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, Moçambique, que já exportou 4,48 milhões de toneladas de LNG desde o seu primeiro carregamento em Novembro de 2022, totalizando 63 carregamentos até Junho de 2024.
Contudo, apesar do sucesso internacional da plataforma Coral Sul, permanece desconhecido quanto Moçambique arrecadou em termos de receitas fiscais provenientes destas exportações. A Energy Connects, plataforma de informação sobre hidrocarbonetos, divulgou estes dados, confirmando o que já tinha sido mencionado pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, no seu último Informe sobre o Estado Geral da Nação, a 7 de Agosto. No entanto, o Presidente não detalhou os dividendos financeiros resultantes dos carregamentos.
Nyusi destacou o início das exportações de gás natural como um marco importante para o país, considerando-o parte do legado da sua governação e um sinal do posicionamento de Moçambique como actor relevante no mercado global de energia.
Os resultados financeiros da Eni surgem num contexto de desafios para as empresas europeias de energia, que têm enfrentado a baixa procura de gás natural e a queda das margens de refinação. Ainda assim, a empresa conseguiu superar essas dificuldades, reportando um lucro líquido ajustado de 1,52 mil milhões de euros no segundo trimestre, acima das previsões dos analistas, que estimavam 1,46 mil milhões de euros.
A Eni também aumentou a sua meta de lucros para o ano inteiro, prevendo agora 15 mil milhões de euros, um crescimento de mil milhões em relação à meta anterior. O lucro operacional ajustado da unidade de exploração e produção registou um aumento de 26%, alcançando 3,53 mil milhões de euros, impulsionado por um aumento de 6% na produção de hidrocarbonetos, que chegou a 1,71 milhão de barris de óleo equivalente por dia.
O aumento da produção foi, em grande parte, impulsionado pelos projectos em Moçambique, Costa do Marfim e Líbia, bem como pela aquisição da Neptune Energy no ano passado. A empresa espera manter uma produção elevada ao longo de 2024, beneficiando da estabilidade dos preços do petróleo Brent, que têm estado próximos de 86 dólares por barril.
No mesmo período, a Eni alienou um activo upstream no Alasca e chegou a um acordo para vender uma participação na sua unidade de biorrefinação, Enilive. Segundo o CEO Claudio Descalzi, essas alienações devem reduzir a alavancagem da empresa para níveis significativamente abaixo de 0,2 até o final do ano, superando as expectativas iniciais.
Descalzi também destacou que o sucesso nas desinvenções permitirá à Eni acelerar o seu programa de recompra de ações, avaliado em 1,6 mil milhões de euros, reflectindo o optimismo da empresa em relação ao futuro.