Mesmo com ameaças dos EUA : Antigos governantes a favor do combustível russo

Apesar da ameaça, os antigos governantes moçambicanos dizem que o país deve defender seus interesses, neste caso, de adquirir combustível barato, oferecido pela Rússia.

Agosto 11, 2022 - 20:46
Agosto 16, 2022 - 00:25
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Os Estados Unidos da América (EUA), alertaram, na semana passada, para as consequências   se as  nações africanas  comprarem combustível à Rússia a preços abaixo do mercado, na sequência das sanções impostas àquele país pela invasão à Ucrânia. Entretanto, à margem do evento em que o Presidente da República, Filipe Nyusi, anunciou um pacote de medidas de aceleração económica, os influentes e antigos governantes, nomeadamente Tomás Salomão e Luísa Diogo, defenderam que o país é livre de seguir os seus interesses.

 

Tomaz Salomão, que para além de antigo Ministro de Economia e Finanças, exerceu também as funções de Secretário da SADC, foi mais directo no seu comentário sobre a proibição dos EUA. No seu pronunciamento deixou transparecer que, analisando os custos e benefícios, Moçambique, enquanto Estado soberano, não deverá descartar uma oportunidade oferecida pela Rússia para comprar combustível a preços acessíveis, apesar da ameaça dos EUA.

 

“Moçambique recebeu uma oferta que foi feita por um país. No mundo de hoje, em relações internacionais, aquilo que conta são os interesses de cada país em primeiro lugar. Os russos têm os seus interesses de vender o combustível, Moçambique tem o seu interesse que é comprar combustível a um preço acessível”, afirmou Salomão.

 

Entretanto Salomão, que também é membro da Comissão Política da Frelimo, partido no poder, disse que antes de decidir comprar o Governo deverá, além da Rússia, estudar outras opções, decidindo pela mais conveniente.

 

“Moçambique vai tomar a decisão e a opção que achar mais conveniente. A opção conveniente é que precisamos de adquirir combustível a um preço acessível, no âmbito  das medidas pronunciadas pelo Chefe de Estado. Logicamente queremos que o preço seja o mais baixo possível”, afirmou Salomão.

Quanto à exequibilidade de comparar o combustível em Rublos, numa altura em que o Banco de Moçambique não tem grandes reservas, Tomaz Salomão, que também é banqueiro, desvalorizou a questão.

 

“Não precisamos de ter reservas em Rublos. Precisamos de ter recursos com os quais se possa fazer a conversão e fazer as compras, mas o país está a estudar as vantagens que decorrem da oferta que foi feita pela Rússia. Seguramente que outras ofertas estarão em cima da mesa.  A última palavra caberá à  IMOPETRO, a entidade que importa combustível, tomando a decisão sobre onde vamos adquirir o combustível”, concluiu.

 

Alinhando pelo  mesmo diapasão, mas de uma forma mais diplomática,  a antiga Primeira-ministra, Luísa Diogo, referiu: “A posição de Moçambique, que todos nós devemos defender, é a posição que está definida na Constituição, que foi defendida também no momento da votação pelo Governo moçambicano, que é a abstenção em relação a este conflito, e então, baseado nessa posição política tomada, o Governo deve actuar em conformidade com esse princípio e ver como vai fazer a gestão da situação”, afirmou Diogo. 

Este aviso  dos EUA aos países africanos  chega a Moçambique depois de o Governo informar que está a ponderar adquirir combustível russo, após o Embaixador daquele país em Moçambique, fazer uma oferta de compra daqueles produtos, e não só, a preços acessíveis, mas com recurso ao Rublo (moeda russa).

O alerta dos EUA de aquisição de combustível da Rússia foi feita a 04 de Agosto corrente pela Embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield.

Falando na capital de Uganda, Kampala, após uma reunião com o Presidente Yoweri Museveni, Linda  afirmou que os países podem comprar produtos agrícolas, fertilizantes e trigo russo, mas  combustível não, uma vez que   sanções sobre esse produto Neste contexto, avisou “os países a não quebrarem as sanções, porque caso o façam sofreram as devidas consequências”.