Ruanda nega envio de militares a Maputo e reafirma actuação limitada a Cabo Delgado
Circulam informações que sugerem a presença de tropas ruandesas em Maputo para conter manifestações contra os resultados eleitorais, de acordo com o candidato presidencial e crítico exilado de Moçambique, Venâncio Mondlane. Na noite de domingo, Mondlane afirmou que tropas ruandesas estavam a ser transferidas da província de Cabo Delgado, no norte, para Maputo com o objectivo de reprimir os protestos.
Contudo, o governo do Ruanda negou categoricamente essas alegações. Yolande Makolo, porta-voz do governo ruandês, respondeu prontamente através da sua conta X (antigo Twitter): “Isso é mentira. Não há tropas ruandesas em Maputo”. Makolo reforçou que as forças ruandesas estão destacadas exclusivamente em Cabo Delgado, onde operam em conjunto com as forças moçambicanas no combate a grupos extremistas islâmicos que têm ameaçado a segurança da região.
Actualmente, cerca de 2.000 soldados e polícias ruandeses estão estacionados em Cabo Delgado, no âmbito de um acordo entre os governos de Moçambique e do Ruanda. Essas tropas desempenharam um papel relevante na recuperação dos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, expulsando grande parte dos jihadistas da região.
Mondlane também acusou a União Europeia de financiar o movimento das tropas ruandesas para Maputo e exigiu um esclarecimento por parte da UE sobre o assunto. Numa escalada das manifestações, Mondlane pediu aos seus seguidores que intensifiquem os protestos e preparem uma “marcha sobre Maputo” prevista para quinta-feira.
Embora as manifestações não tenham afectado as operações dos principais sectores industriais, registaram-se impactos consideráveis no comércio informal e no transporte. Muitas lojas e barracas informais permaneceram fechadas por vários dias na última semana, resultando em perdas para os comerciantes locais. Mondlane também instruiu que o transporte público e privado fosse suspenso em Maputo, com excepção dos “chapas” que transportassem pessoas das províncias para a marcha.
Mondlane alertou ainda os operadores de transporte, embora tenha afirmado que não planeia causar danos à propriedade privada. No entanto, vídeos capturados durante os protestos mostram saqueadores e manifestantes a atirar pedras em ambulâncias. Mondlane alegou que esses actos foram cometidos por “infiltrados” e não pelos seus seguidores.
Relatos indicam que o Comandante-Geral da PRM, Bernardino Rafael, está estacionado em Marracuene, a 30 quilómetros de Maputo, com o objectivo de monitorar a entrada de pessoas na capital. A polícia interceptou recentemente um autocarro com 47 pessoas, suspeitando que estivessem a caminho da marcha de Mondlane. No entanto, uma investigação conduzida por um advogado da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) revelou que o grupo era composto por trabalhadores contratados pela Vodacom para instalar cabos de fibra óptica.
Após o esclarecimento, a polícia libertou o grupo, que esteve detido ilegalmente por um dia e meio. Mesmo que os 47 indivíduos tivessem a intenção de participar nas manifestações, não existia nenhuma ilegalidade que justificasse a sua detenção.
Mondlane reiterou a intenção de encher as principais avenidas de Maputo com manifestantes, numa demonstração de força que, segundo ele, poderia atrair até quatro milhões de pessoas. No entanto, críticos consideram essa previsão irrealista, uma vez que a população combinada de Maputo e da cidade vizinha de Matola é inferior a quatro milhões, de acordo com dados do censo de 2017.