TotalEnergies aguarda desfecho eleitoral para retoma do projecto LNG em Moçambique
O Presidente da República, Filipe Nyusi, dá mão à palmatória e reconhece que a petrolífera francesa, TotalEnergies, não regressará pelo menos com o país sobre a sua égide, assumindo que esta multinacional aguarda pelo desfecho do ciclo eleitoral em Moçambique para a retoma do projecto de Gás Natural Liquefeito (LNG), denominado Mozambique LNG, que há quatro anos está suspenso na península de Afungi, em Palma, norte de Cabo Delgado, devido a insegurança naquele distrito.
A abordagem mostra claramente que a hegemonia do Chefe do Estado chegou ao fim e o seu poder de influenciar processos de tomada de decisão esgotou.
O sentimento exteriorizado recentemente pelo próprio Nyusi, no balanço da sua visita de trabalho de quatro dias aos Estados Unidos de América (EUA), onde, apesar de reconhecer que um “outsider” sobre o processo, reiterou que a TotalEnergies mantém a decisão de retomar o projecto, embora sem data definitiva.
“Nestes momentos eleitorais, toda a gente gosta de ter a certeza para ver como as coisas terminam. Então há uma coincidência de acontecimentos em Moçambique. Eu gostaria que fizessem essa pergunta no próximo ano para não embaraçarmos os políticos”, disse o estadista moçambicano quando questionado sobre a retoma do projecto Mozambique LNG.
Reiterou que a TotalEnergies mantém-se no projecto da Área 1, da Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, tendo afirmado de seguida que “ninguém mete dinheiro num tempo de incertezas”.
Orçado em cerca de 20 mil milhões de dólares, o maior investimento privado em curso em África, a TotalEnergies suspendeu as suas actividades por motivo de “força maior”, até que as condições de segurança permitam o reinício dos trabalhos em Afungi.
Nos últimos meses, os ataques terroristas reduziram significativamente, por isso, as Missões, Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SAMIM, sigla em inglês) e da Formação Militar da União Europeia em Moçambique (EUTM) terminaram, respectivamente, em Junho, e Setembro, as suas acções no país.
As Forças de Defesa e Segurança conseguiram restaurar a autoridade do Estado em todos os distritos que haviam sido tomados pelos terroristas em Cabo Delgado.
No entanto, Nyusi afirmou que a TotalEnergies deve ter certeza de que o seu investimento não corre nenhum risco.
“Esses projectos entram com [muito] dinheiro, e ninguém mete dinheiro, se for consciente, num terreno pantanoso, num momento de incertezas”, disse.
O mesmo posicionamento de Nyusi é, igualmente, para os projectos da multinacional petrolífera norte-americana, ExxonMobil, operadora de um consórcio na Área 4 para a produção de gás natural na Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado.
Aliás, em Nova Iorque, Nyusi manteve um encontro de trabalho com o vice-presidente da ExxonMobil, Walter Kansteiner, e ficou a saber que o projecto técnico para a extracção de gás natural pode ser concluído dentro de um ano.
A ExxonMobil lidera a construção e operação de todas as futuras instalações de LNG e instalações relacionadas para o bloco de águas profundas da Área 4, da Base de Rovuma, na costa de Cabo Delgado, operado pela Moçambique Rovuma Venture (MRV), um consorcio que inclui a companhia petrolífera italiana de energia ENI e a CNPC da China.
Também, o projecto sofreu vários adiamentos como resultado violência perpetrada pelos terroristas em alguns distritos de Cabo Delgado.
Moçambique realiza as VII eleições presidenciais e legislativas, e IV para as assembleias provinciais a terem lugar a 09 de Outubro próximo.
Estão na corrida eleitoral, quatro candidatos, nomeadamente, Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder, Ossufo Momade, apoiado pelo partido Renamo, a principal força da oposição, Lutero Simango, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força política e o jovem Venâncio Mondlane, que concorre como independente e apoiado pelo partido PODEMOS.
Refira-se que, em Maio deste ano, o Presidente da companhia petrolífera francesa TotalEnergies, Patrick Pouyané, garantiu que está para breve a retoma do projecto de gás natural na base logística de Afunji, distrito de Palma, em Cabo Delgado, depois de interrupção por questões de segurança.
Sem avançar datas, revelou que decorrem negociações com todas as instituições de crédito interessadas na reestruturação dos acordos de financiamento com vista a alcançar um entendimento sobre investimentos, o que poderá suceder em breve, tendo em conta que os trabalhos nesse sentido estão num bom caminho.
Pouyané anunciou o facto em Kigali, capital ruandesa, a saída de um encontro que manteve com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, a margem do Africa CEO Fórum, um evento de busca de investimento para o sector público-privado.