Astúcia de Kagame e inocência de Nyusi: Uma análise das diferentes abordagens de liderança

O acordo "secreto" entre Paul Kagame, presidente do Ruanda, e Filipe Nyusi, presidente de Moçambique, que culminou com o desembarque do exército ruandês em solo moçambicano, continua envolto em mistério.

Julho 8, 2024 - 11:26
Julho 8, 2024 - 11:39
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Astúcia de Kagame e inocência de Nyusi: Uma análise das diferentes abordagens de liderança

Contudo, é evidente que o maior beneficiário será Paul Kagame, cuja astúcia e visão estratégica têm guiado Ruanda rumo a um desenvolvimento robusto e a um posicionamento regional proeminente.

Por outro lado, Filipe Nyusi parece carecer de uma política externa clara e uma estratégia de desenvolvimento eficaz, contrastando nitidamente com a abordagem de Kagame.

A Cimeira África-Coreia: Contraste de agendas

Recentemente, uma delegação coreana chegou a Ruanda para concretizar acordos firmados com o governo local na cimeira África-Coreia de Junho.

Nesta cimeira, que contou com a participação de mais de 30 presidentes africanos, incluindo Filipe Nyusi, a maioria dos líderes foi à Coreia sem uma agenda concreta. Paul Kagame, no entanto, destacou-se por sua clareza de propósito.

Enquanto os outros estadistas, incluindo Nyusi, se envolviam em encontros protocolares, Kagame tinha um plano bem definido. No dia 5 de Junho, o estadista visitou a Universidade Yonsei, onde se reuniu com o presidente e CEO Ki Chang Keum e o director Yong-beom Park.

Esta visita foi crucial para fortalecer a parceria entre Ruanda e a universidade, com foco na educação e saúde.

Na universidade Kagame assinou um Memorando de Entendimento que visa promover colaboração em pesquisa académica, programas de intercâmbio e projectos conjuntos de assistência médica.

Este acordo representa um compromisso para elevar os padrões educacionais e de saúde em Ruanda, permitindo que o país aspire a níveis de qualidade comparáveis aos da Coreia.

Investimento na saúde e educação

Durante a visita, Kagame manifestou interesse no Centro de Terapia de Íons Pesados da Universidade Yonsei, uma instalação de ponta no tratamento do câncer. Esta iniciativa pode abrir portas para futuras colaborações em pesquisa médica e assistência em Ruanda, reforçando ainda mais a infraestrutura de saúde do país.

Em contraste, Filipe Nyusi regressou de Seul com um empréstimo de mil milhões de dólares, que poderá aumentar ainda mais a dívida pública de Moçambique, já em níveis alarmantes.

Este fardo financeiro poderá limitar as opções do próximo presidente moçambicano, eleito em 9 de Outubro, e obrigar Moçambique a procurar tecnologia de saúde em Ruanda, uma oportunidade que poderia ter sido capitalizada em Seul.

Desenvolvimento de Ruanda e Moçambique nos últimos 10 anos

Ruanda tem apresentado um crescimento económico impressionante nos últimos 10 anos, com uma média de crescimento anual de 7,5%. Segundo o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento, o PIB per capita mais do que duplicou, passando de 404 dólares para 818 dólares.

O país também conseguiu reduzir significativamente a taxa de pobreza, retirando mais de um milhão de pessoas da pobreza desde 2005. Estas conquistas são atribuídas a reformas institucionais, investimentos em infraestrutura e políticas voltadas para a melhoria do capital humano.

Por outro lado, Moçambique tem enfrentado desafios consideráveis. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, o país foi severamente afectado por crises políticas e económicas, exacerbadas pela insurgência em Cabo Delgado e desastres naturais como ciclones.

Embora o crescimento económico tenha sido modesto, com uma média anual de cerca de 4% nos últimos anos, Moçambique luta com uma elevada dívida pública e uma infraestrutura de saúde e educação que necessita de melhorias significativas.

Em 2022, o PIB per capita de Moçambique era de aproximadamente 490 dólares, significativamente abaixo do de Ruanda.

A diferença na abordagem de ambos os líderes é evidente. Enquanto Kagame se foca em iniciativas concretas e de longo prazo que beneficiam directamente o seu país, Nyusi parece preso a soluções de curto prazo que aumentam os encargos financeiros de Moçambique.

A visita de Nyusi à Coreia do Sul resultou apenas num aumento da dívida, sem uma visão clara para o desenvolvimento sustentável.

A astúcia de Paul Kagame e a sua capacidade de navegar nas complexas águas da diplomacia internacional contrastam fortemente com a aparente falta de direcção estratégica de Filipe Nyusi.