Kagame e Ramaphosa em rota de colisão após mortes de soldados sul-africanos
A tensão entre Ruanda e África do Sul atingiu um novo patamar após a morte de 13 soldados sul-africanos na República Democrática do Congo (RDC), durante confrontos com os rebeldes do Movimento 23 de Março (M23). O governo sul-africano acusa Ruanda de apoiar directamente os insurgentes, enquanto Kigali rejeita as acusações e adverte Pretória sobre possíveis consequências da sua intervenção militar na RDC.

O Presidente Cyril Ramaphosa declarou que qualquer ataque futuro contra as tropas sul-africanas na RDC será tratado como uma "declaração de guerra", reforçando que a África do Sul não tolerará agressões contra as suas forças destacadas na missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). O Presidente Paul Kagame, por sua vez, criticou a presença sul-africana e alertou que Ruanda está preparada para "lidar" com qualquer escalada da situação.
O conflito na província de Kivu do Norte agravou-se nas últimas semanas, com o M23 capturando Goma, um dos centros estratégicos da região. O grupo rebelde tem sido associado a Kigali devido ao seu histórico de apoio militar e logístico por parte do Ruanda. A RDC e outros países da região acusam Kagame de fomentar a instabilidade no leste congolês para explorar os seus recursos minerais, especialmente coltan e ouro.
Desde o início do ano, os combates já provocaram a morte de mais de 278 pessoas e deslocaram cerca de 200 mil civis, segundo dados da ONU. As forças da SADC, incluindo os soldados sul-africanos, foram mobilizadas para tentar conter o avanço dos rebeldes, mas a situação continua volátil.
A crise no leste da RDC já levou a sanções contra Ruanda por parte de países ocidentais. Os Estados Unidos e a União Europeia impuseram restrições financeiras a oficiais ruandeses suspeitos de envolvimento no apoio ao M23. A França e a Bélgica também condenaram as ações de Kagame e pediram um cessar-fogo imediato.
O Conselho de Segurança da ONU convocou uma reunião emergencial para debater a escalada da violência e possíveis medidas adicionais contra Ruanda. No entanto, Kigali continua a negar envolvimento direto e acusa a RDC de abrigar grupos rebeldes anti-ruandeses, como as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR).
A participação da África do Sul no conflito reflete a sua crescente tentativa de se consolidar como mediador regional e potência militar no continente. No entanto, a escalada das tensões com Ruanda expõe as dificuldades de Pretória em equilibrar a diplomacia com acções militares efectivas.
O Presidente Ramaphosa enfrenta desafios internos, uma vez que a oposição na África do Sul critica a falta de clareza sobre o envolvimento das tropas no conflito. Além disso, há o receio de que a instabilidade no leste da RDC possa levar a um confronto directo entre as forças sul-africanas e o exército ruandês.
Enquanto isso, a União Africana (UA) e a SADC tentam mediar um cessar-fogo entre as partes, mas a falta de consenso e a desconfiança mútua dificultam o progresso das negociações. Se a situação continuar a deteriorar-se, a crise na RDC poderá transformar-se num conflito regional de maiores proporções, envolvendo directamente países como Angola, Uganda e Burundi.
A reunião da UA prevista para Fevereiro será crucial para definir os próximos passos e evitar um confronto directo entre Kigali e Pretória, que poderia ter consequências devastadoras para a estabilidade da região.