Mais de 4.000 mulheres com problemas de fistula obstétrica foram operadas no País desde 2018
A campanha está a ser uma oportunidade para pacientes vulneráveis com fístula obstétrica se beneficiarem de um tratamento de qualidade e gratuito bem como para a formação prática-teórica de cirurgiões, médicos e técnicos de cirurgia baseados na província de Sofala.
A cidade da Beira acolhe de 15 a 25 de julho a campanha provincial de tratamento de fístula obstétrica e reconstrução pélvica. A campanha é organizada pela Focus Fístula, uma organização sem fins lucrativos que intervém na área da fístula obstétrica e cirurgia reconstrutiva, com a missão de contribuir para a melhoria da saúde da mulher, restaurando a sua integridade e dignidade, através de tratamento cirúrgico especializado e gratuito.
As sessões de cirurgia decorrem no Bloco Operatório do Hospital Central de Beira (HCB) e vão envolver especialistas nacionais entre médicos ginecologistas e obstetras, uro ginecologistas, urologistas, cirurgiões gerais, técnicos de saúde, enfermeiros e estudantes de especialização.
A campanha está a ser uma oportunidade para pacientes vulneráveis com fístula obstétrica se beneficiarem de um tratamento de qualidade e gratuito bem como para a formação prática-teórica de cirurgiões, médicos e técnicos de cirurgia baseados na província de Sofala.
“O primeiro dia serviu para fazer triagem das doentes e a avaliação de cada caso. Já foram alistadas 29 doentes que vão ser submetidas a cirurgia. Algumas destas doentes têm casos complexos cuja cirurgia poderá requerer mais tempo e alguns casos são simples. Elas são provenientes dos distritos de Nhamatanda, Dondo, Gorongosa, Búzi, Chibabava, Inhaminga, Marínguè, Machanga, Chibabava e da cidade da Beira. As idades de 15 a 55 anos, que na sua maioria contraíram durante o parto. Algumas convivem com a doença há mais de cinco anos”, indica o comunicado da Focus Fístula.
Ao longo da semana, a Focus Fístula espera receber mais doentes e estão constituídas três equipas para fazer cirurgias, sendo que cada grupo poderá atender três doentes, nos casos complexos pode ser um ou dois.
Isabel A., 27 anos, contraiu fístula em 2022 depois de um parto complicado. Perde urina e fezes de forma descontrolada pela vagina. Diz estar cansada de conviver com a doença e vê o tratamento como uma oportunidade para ter uma vida normal.
“Dei parto no hospital em Chimoio. Quando voltei para casa me apercebi que estava a perder fezes e urina através da vagina. Voltei para o hospital e me disseram que tenho fístula. Sofri discriminação e quando pego uma coisa para comer as pessoas costumam estranhar, não aceitam pegar a mesma coisa. Meu marido me apoia, mas ele me deixou sozinha no quarto. Passava as noites a chorar. Cheguei a pensar em me suicidar. Perdi a criança no parto e ainda sofro discriminação, é muito difícil. Mas tenho esperança de que vou ficar bem”, referiu.
A campanha de tratamento decorre no âmbito da implementação da Estratégia e Programa Nacional de Prevenção e Tratamento da Fístula Obstétrica e dos esforços conjuntos para a eliminação da fístula obstétrica até 2030. Em Moçambique, estima-se que cerca de dois mil e quinhentos novos casos de fístula obstétrica são registados anualmente.
Desde 2018 até ao momento, mais de 4.000 mulheres foram operadas no país, em campanhas ou em operações selectivas, pelo Programa Nacional de Fístula do MISAU, das quais a Focus Fístula contribuiu com cirurgias de fístula gratuita para cerca de 600 mulheres e raparigas, em particular das zonas rurais, de diferentes províncias e distritos.
Fístula obstétrica é uma abertura anormal entre o trato genital da mulher e seu trato urinário ou recto, causado por trabalho de parto arrastado e obstruído sem acesso a cuidados médicos imediatos e de qualidade. A fístula obstétrica pode ser prevenida, através do acesso a cuidados obstétricos de emergência, e acompanhamento pré-natal e de parto seguro.
A campanha conta com financiamento da Fístula Foundation, apoio das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) e parceria da Sociedade Internacional dos Cirurgiões de Fístula Obstétrica (ISOFS), da Embaixada da Irlanda, do Projecto Momentum Engenderhealth/USAID e da Direct Relief.