O "calvário dos moçambicanos" na fronteira de Ressano Garcia - Lebombo
Para carimbar um passaporte através do Serviço Nacional de Migração (SENAMI) o passageiro leva no máximo 10 minutos. Já da parte sul-africana são mais de 4 horas de tempo em pé e uma fila que constantemente é furada por quem tem mais poder de compra que o outro.

Não se sabe ao certo se é uma ordem superior das autoridades sul-africanas ou um esquema para extorquir passageiros. A verdade é que os moçambicanos e não só, são extremamente desrespeitados na fronteira Moçambique-África do Sul, através do corredor terrestre de Ressano Garcia (Moamba) - Lebombo (Komatipoort). Para carimbar um passaporte através dos Serviços Nacional de Migração (SENAMI) o passageiro leva no máximo 10 minutos. Já da parte sul-africana são mais de 4 horas de tempo em pé e uma fila que constantemente é furada por quem tem mais poder de compra que o outro.
É o que vivenciamos no último sábado (03.06) na fronteira de Ressano Garcia – Lebombo, quando tudo aparentava estar a correr a mil maravilhas, eis que a nossa reportagem acabou se deparando com um autêntico calvário dos moçambicanos que recorrem aquela rota para entrar na vizinha África do Sul. Estranhamente, tratava-se de um dia normal de actividades, sem qualquer evento de realce na África do Sul, pois embora, o distrito de Moamba estivesse a organizar o festival da carne caprina, as movimentações eram de moçambicanos e não são procurando chegar a Komatipoort para adquirirem certos bens e serviços, mas depois de horas e horas de espera.
Na ocasião, quase todos os utentes lamentavam a situação. "Isto é sabotagem. Eles não podem nos tratar assim. Já estou há cinco hora aqui na fila, mas a mesma não anda, tudo porque eles só têm duas ou três pessoas para atender todos nós aqui", desabafou Maria Cuna, uma passageira de 68 anos de idade, que pretendia chegar a Komatipoort para adquirir alguns produtos alimentares.
"Não entendo o que se passa com estes sul-africanos, eles nos maltratam como se estivéssemos a pedir-lhes favores. Nós é que movimentamos a economia deles, mas olhem para isso, já são 11 horas e estou aqui desde 07 horas. Eles não nos respeitam e nós nem temos como reclamar", lamentou Abílio Dengo, passageiro que levava a família para passear e fazer compras em Komatipoort.
Na senda das lamentações, um alto quadro do SENAMI em conversa com a nossa reportagem, disse de viva voz que se tratava de uma "sabotagem", uma vez que não fazia sentido algum que um País como África do Sul, mais evoluído em termos de infraestruturas e tecnologias estivesse a prestar serviços de má-qualidade como aqueles que estávamos a verificar.
"Vocês viram como somos eficientes da nossa parte, levamos poucos minutos para atender os utentes, contrariamente, os nossos homólogos submetem os nossos concidadãos a situações desta natureza. Temos crianças, mulheres grávidas, idosos, pessoas com deficiências e vocês que estão aqui desde as primeiras horas com os pés a doerem, simplesmente porque eles decidiram alocar apenas três trabalhadores, logo, num dia de pico como tem sido em todos os sábados", criticou o alto funcionário do SENAMI e que pediu anonimato.
Entretanto, a nossa reportagem não conseguiu colher qualquer explicação da parte sul-africana. Outrossim, durante a produção da reportagem, deparamo-nos com uma situação de corrupção transfronteiriça, protagonizada por certos intermediários, que devido a situação desespero em que muitos passageiros se encontram acabam pagando 150 rands (equivalente a 485,08 meticais no câmbio actual moçambicano) ou 200 rands (correspondente a 646,78 meticais) simplesmente para furar a fila e reduzir as horas de espera para chegar a Komatipoort ou mesmo seguir viagem para Nelspruit.
No local, o intermediário revelou que do dinheiro recolhido, ele ficava apenas com 50 rands em cada passaporte carimbado e os restantes 100 ou 150 rands vão para o bolso do funcionário da imigração afecto no respectivo dia de trabalho. No entanto, depois de horas de espera, a nossa reportagem atravessou a fronteira, onde através de pessoas abalizadas na matéria que havia uma contenda entre as autoridades de migração sul-africana e os funcionários, tudo devido a um conjunto de reivindicações que não estão a ser satisfeitas, facto este que acaba afectando o funcionamento da fronteira de Ressano Garcia – Lebombo. (Omardine Omar, em Moamba e Lebombo - RSA)