FAO contrária a “teoria” das três refeições diárias do Celso Correia

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) divulgou um relatório que estima mais de três milhões de moçambicanos em situação de insegurança alimentar aguda, contradizendo as declarações do Ministro da Agricultura e Segurança Alimentar de Moçambique, Celso Correia, que afirmou que cada moçambicano tem acesso a três refeições diárias.

Janeiro 12, 2024 - 20:57
 0
FAO contrária a “teoria” das três refeições diárias do Celso Correia

Segundo o relatório da FAO, entre Maio e Setembro, cerca de 2,6 milhões de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar aguda no país, necessitando de assistência urgente. Além disso, o documento aponta que, para o período de Outubro de 2023 a Março de 2024, aproximadamente 3,3 milhões de moçambicanos enfrentarão uma situação de insegurança alimentar aguda ou pior, o que corresponde à fase 3 do índice de segurança alimentar integrada da FAO, incluindo 220.000 pessoas na fase 4, de emergência.

 

O relatório destaca ainda que 21% da população dos distritos mais afectados por choques climáticos e ataques terroristas em 2023 está em situação crítica. Em particular, a província de Cabo Delgado, palco de ataques terroristas desde 2017 e que provocaram mais de um milhão de deslocados, enfrenta uma crise de insegurança alimentar, com 863.000 pessoas (32% da população total da província) em situação de insegurança alimentar aguda, entre Outubro de 2023 a Março de 2024.

 

Além disso, no sul e centro do país, a necessidade de assistência alimentar está associada ao esgotamento das reservas alimentares e ao impacto do fenómeno climático "El Niño". Como resposta, a FAO fornece sementes certificadas de alta qualidade aos agricultores, visando reduzir parcialmente o risco de insegurança alimentar nas regiões mais vulneráveis.

 

As declarações de Celso Correia sobre as três refeições diárias foram questionadas pela oposição no parlamento, acusando o ministro de basear suas afirmações em relatórios incoerentes. O governo esclareceu posteriormente que as afirmações se basearam num inquérito pós-colheita, realizado num período de disponibilidade de stock alimentar, não representando a realidade durante todo o ano.

 

Analistas criticam a fiabilidade deste tipo de inquérito para fundamentar declarações governamentais, pois a amostra utilizada não é abrangente o suficiente para tirar conclusões gerais sobre a segurança alimentar no país.