Governo avisa que exército pode intervir para controlar manifestações
O Ministro da Defesa de Moçambique, Custódio Chume, alertou hoje que, perante as crescentes ameaças de tentativa de tomada de poder por vias não legais, o exército moçambicano poderá ser mobilizado para proteger o governo democraticamente instituído. O aviso foi emitido numa conferência de imprensa em Maputo, onde o Ministro abordou a crise social desencadeada pela tensão pós-eleitoral.
Chume afirmou que têm surgido indícios de preparativos para uma alteração de poder não institucional. "Temos estado a assistir actos que visam a alteração do poder democraticamente instituído. Não há quem ataque as FDS sem um propósito claro. Não devemos nos enganar; a nossa missão como militares é proteger o poder, o povo e a soberania", enfatizou o Ministro.
Embora reconheça o direito às manifestações, o Ministro sublinhou que estas devem obedecer a regras, incluindo a cooperação com as autoridades para garantir a segurança de todos. "Em todo o mundo, as manifestações têm normas a seguir. Há locais sensíveis que devem ser protegidos, e nós vamos cumprir essa missão”, acrescentou.
Referindo-se aos protestos marcados para o próximo dia 7, convocados por Venâncio Mondlane, candidato presidencial derrotado, o Ministro afirmou que alguns movimentos internacionais, como golpes de estado, estão a servir de modelo para essas acções. Mondlane havia convocado uma marcha sobre Maputo, apelando a quatro milhões de cidadãos para ocuparem as ruas da capital em protesto contra o governo.
Custódio Chume também negou categoricamente rumores de presença de tropas ruandesas nas ruas de Maputo para reprimir os manifestantes, assegurando que as únicas forças activas são as Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique. Segundo Chume, as FDS estão a desempenhar um papel secundário, limitando-se à limpeza das vias e ao diálogo com as comunidades para compreender as causas dos protestos.
Até ao momento, a resposta primária às manifestações tem sido conduzida pela Polícia da República de Moçambique (PRM). No entanto, o Ministro da Defesa advertiu que, caso a situação se agrave, o exército poderá ser colocado em primeiro plano para proteger os cidadãos e assegurar a ordem pública. "Estamos perante uma questão de ordem pública, e a resposta primária é da polícia. Os militares estão em apoio, sobretudo na protecção de infra-estruturas críticas. Mas se a violência escalar, será inevitável reposicionar as forças para proteger o Estado", afirmou.
O Ministro reconheceu que têm ocorrido excessos tanto por parte da polícia como dos manifestantes, resultando em mortes em ambos os lados. Chume prometeu uma investigação para apurar as causas desses excessos e exortou os manifestantes a manterem a paz durante os protestos.
Em resposta a alegações de descontentamento entre os membros das FDS, o Ministro reafirmou que a moral no exército permanece elevada, embora admita a possibilidade de haver infiltrados nas forças militares. Chume garantiu que será conduzida uma investigação para identificar possíveis elementos infiltrados, reforçando o compromisso das FDS na defesa da estabilidade e soberania de Moçambique.