Presidente sul-africano contacta Elon Musk após ameaça de corte de financiamento por Donald Trump
O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, manteve uma conversa telefónica com o bilionário Elon Musk, pouco depois de Donald Trump ter anunciado a intenção de suspender a ajuda financeira ao país devido a uma nova lei de expropriação de terras. De acordo com The New York Times, o porta-voz de Ramaphosa, Vincent Magwenya, confirmou o diálogo e sublinhou o interesse anterior de Musk em efectuar investimentos na África do Sul, bem como a sua proximidade com o ex-Presidente norte-americano.
A lei de expropriação, assinada por Ramaphosa no mês passado, permite ao governo sul-africano confiscar terras privadas em determinadas circunstâncias. Trump justificou a suspensão de assistência financeira, afirmando que o seu executivo investigaria as razões por que a África do Sul estaria “a confiscar terras” e sugerindo, sem provas, que acções ainda mais graves poderiam estar a ocorrer. As autoridades sul-africanas responderam, classificando as alegações de Trump e as críticas de Musk como “desinformação e distorções”.
Musk, nascido na África do Sul, lidera o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental da administração Trump e tem criticado as políticas de acção afirmativa do seu país natal, acusando o governo de discriminar brancos. O empresário também contesta a nova lei, alegando que esta visa retirar terras da minoria branca, apesar de peritos locais atribuírem os homicídios de fazendeiros brancos aos elevados níveis de criminalidade, e não a uma política oficial.
Se Trump cumprir a ameaça de cortar o financiamento, cerca de 440 milhões de dólares anuais em assistência dos EUA deixariam de ser destinados, em grande parte, ao maior programa de combate ao HIV/SIDA no mundo. Actualmente, os EUA financiam 17% dos custos deste programa através do Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da SIDA (PEPFAR). A África do Sul é o país com o maior número de pessoas infectadas pelo HIV, com cerca de 8 milhões de casos, dos quais 5,5 milhões estão em tratamento antirretroviral.
Pretória sublinha que não confiscou nenhuma propriedade ao abrigo da nova lei, salientando que esta se aplica sobretudo a terras subaproveitadas, no intuito de corrigir injustiças históricas do apartheid. Dados recentes indicam que 70% das terras do país continuam na posse de brancos, que representam apenas 7% da população de 62 milhões de habitantes.
O diferendo inclui ainda o não licenciamento do serviço de internet via satélite Starlink, de Elon Musk, na África do Sul, em resultado das leis de acção afirmativa que exigem participação de investidores negros em determinadas empresas. Musk descreveu tais medidas como “abertamente racistas”, repetindo críticas de longa data ao governo sul-africano.
Embora as tensões persistam, Ramaphosa e Musk já tinham abordado a hipótese de investimentos no país, em particular no que diz respeito ao Starlink. Segundo Magwenya, o governo de Pretória pretende manter conversações tanto com a administração Trump como com “figuras influentes como Elon Musk”, visando esclarecer os pontos de discórdia e salvaguardar a cooperação, numa altura em que a possibilidade de corte de financiamento permanece como uma ameaça real.